sábado, 18 de abril de 2020

Eduardo Paes* - Depois da peste

- O Globo

Gerenciamento da recuperação pode mudar o futuro de uma cidade

Temos dois caminhos a escolher: esperar a epidemia passar para pensarmos o que fazer depois — e incorrer nos mesmos erros de falta de planejamento — ou pensar nas saídas para quando a fase mais crítica arrefecer.

O adequado gerenciamento da recuperação de uma crise pode mudar o futuro de uma cidade. Como toda crise é oportunidade, esse processo pode representar o surgimento de soluções para problemas que já vivemos. O caso do Rio é especial. A cidade já vinha atravessando um de seus piores momentos, e a Covid-19 vem torná-los mais desafiadores.

Pandemias tiveram historicamente um impacto muito importante em transformações urbanísticas e econômicas. As pandemias do século XIX ajudaram a acelerar implantação de redes de água e esgotos em diversas cidades do mundo(Alô, Cedae!!!! Estamos no século XXI sem resolver problemas do século XIX!). São Francisco e Chicago se tornaram cidades economicamente mais bem-sucedidas depois de um terremoto e um furacão. Desastres e doenças dão forma a cidades!

Quem são as populações mais vulneráveis e que ainda precisarão de assistência? Que atividades econômicas geram mais emprego? Devemos descentralizar mais os serviços e gerenciar melhor as redes de suprimentos? Será que já não está clara a necessidade de uma governança metropolitana para lidar com pandemias? Que transformações nossas favelas vão precisar, partindo do excessivo adensamento delas, o que facilita o avanço de doenças transmissíveis?

Alguns elementos são fundamentais para essa recuperação: a redução de incertezas identificando os fundos para seu financiamento, a agilização de processos burocráticos, o estabelecimento de procedimentos claros e informação pública transparente. Além, obviamente, de muito planejamento e liderança forte com a capacidade de atrair os melhores talentos do setor público e privado.

A hora de começar a trabalhar na recuperação é agora. Sem descuidar da atenção à saúde das pessoas, a crise pode virar oportunidade.

*Eduardo Paes foi prefeito do Rio

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