- Folha de S. Paulo
Donos do dinheiro vão apoiar esta venezuelização com desvario liberalóide-militar inepto?
O que o empresariado, a finança e o establishment econômico em geral ainda esperam de Jair Bolsonaro?
A conversa aqui exclui os colaboracionistas engajados no desgoverno e aqueles que patrocinam a propaganda parafascista, comícios golpistas e o terrorismo por ora virtual, nas redes insociáveis.
A pergunta é crua. Diz respeito apenas a interesses diretos da turma, manifestos desde a deposição de Dilma Rousseff, em 2015.
A premissa do plano era que a saída da crise depende da contenção de gastos, déficits e dívida, sem que essa conta fosse paga com impostos extras. Esperava-se que fossem reduzidos os custos da folha salarial, que viesse o desmanche sem substituição da proteção trabalhista e a limpeza do entulho burocrático e da confusão regulatória.
Quanto a providências de aumento da concorrência (como abertura comercial) e outras essenciais para que exista uma economia de mercado (como uniformização de impostos e fim de privilégios fiscais), o tema é divisivo, mexe no bolso e tem sido empurrado com a barriga o quanto possível.
Apesar do alerta até dos economistas liberais mais ilustrados, ainda é dominante a ideia de que tal plano será retomado, sem mais, “depois da epidemia”. Mas não haverá um depois da epidemia. A doença vai continuar por um longo tempo até que o espalhamento do vírus se esgote ou seja limitado por falta de vítimas, por muitos meses.
Neste momento, a economia terá sido infectada até a medula, transformada e não apenas arruinada pelo Covid-19 e pela baderna subversiva de Bolsonaro, de quem o país é refém, em parte por causa das ameaças golpistas de seus generais.
Não é jogo de palavras. Diz-se que, “depois da epidemia”, deve se limitar o gasto público ao teto. Suponha-se que não seja preciso gastar mais a fim de evitar convulsão social e mais falências. Ainda assim, o déficit será imenso, por falta de receita, receita que aliás jamais voltou ao nível de 2014 (em relação ao PIB).
Em uma economia estagnada, de resto, o teto ajudou apenas a trazer o déficit de 2,6% do PIB em 2016 para ainda 1,8% do PIB em 2019. Enfim, o teto passa a explodir em 2021. Faltará dinheiro para despesas elementares. Nem em seus termos o plano para em pé.
O endividamento crescerá sem limite a não ser que sobrevenha uma combinação de gerência eficaz da taxa de juros da dívida pública (talvez heterodoxa, alguma repressão financeira), alta de impostos e aceleração de início forçada do crescimento.
A economia dependerá decerto de alguma versão das “reformas” (espera-se que mais civilizada e inteligente), que não bastará para reacender a economia, como não o fez nos quatro anos depois da recessão. Investimento público será necessário, entre outras muitas medidas.
A alternativa é o plano Bolsonaro-Guedes, que nem saía do papel antes da peste, por incapacidade executiva, política e desvario.
Ainda pode ser feito, com uma combinação de repressão e miséria prolongada. Dadas as projeções de mercado para o PIB, apenas em 2028 o país voltaria a ter renda per capita igual à de 2013.
Sim, pode ser feito, com um joelho no pescoço dos miseráveis. Isso em um ambiente de incitação ao armamento do bolsonarismo, de insubordinação nas polícias, de politização dos quarteis, de radicalização do ódio político, de aliança do generalato com políticos corruptos e de crescente isolamento internacional do país. Como diz o clichê, é um programa Venezuela Plus Gold.
O empresariado vai ser cúmplice do joelho no pescoço?
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