Contra impeachment, Bolsonaro abraça fisiologismo, mas carrega instabilidade
A recriação do Ministério das Comunicações, com a indicação do deputado federal Fábio Faria (PSD-RN), ainda encerra mais dúvidas que certezas. Não se conhecem as reais intenções do presidente da República com o movimento, nem tampouco qual será o resultado do choque entre esse desiderato e seu estilo caótico de governar.
Por um lado, o chefe de Estado evitou repetir o padrão, que já deu reiteradas mostras de fracasso, quer de nomear mais um militar, quer de homenagear a franja de golpistas lunáticos que o bajula.
O Planalto, por outro lado, cogita levar a turma de arruaceiros que fez má fama sob a alcunha de “gabinete do ódio” para a estrutura do novo ministério. O presidente também cometeu a temeridade de colocar na pasta um político que tem ligação pessoal com um grupo de comunicação, o SBT.
Esses elementos, associados ao temperamento mercurial, à mania de interferir em minudências e à inapetência para tarefas administrativas de Jair Bolsonaro, dão azo a quem aposta num futuro de crises e desgastes para o novo ministério, como aliás ocorre com quase tudo na atual gestão federal.
Avaliado num contexto mais amplo, o convite ao parlamentar do PSD vincula-se à estratégia do governo, iniciada há poucos meses, de abrir as portas da máquina federal a partidos desde sempre associados ao chamado toma lá dá cá.
Nenhuma razão de princípio fez o governo, que anunciava uma nova era na política brasileira, correr para os braços do sempre disponível centrão. Foi o pavor do impeachment, desfecho para o qual galopava um presidente cuja quantidade de barbaridades atentatórias aos pilares constitucionais era inversamente proporcional à sua base de apoio no Congresso.
No desespero, Bolsonaro e seus acólitos mandaram às favas promessas de não fazer barganhas no modo tradicional com parlamentares ou de evitar aproximação com políticos que frequentaram as páginas policiais e estão pendurados em investigações de corrupção.
Também enterraram no entulho do estelionato eleitoral a bandeira de restringir a 15 o número de ministérios. Com a ressurgência das Comunicações, eles já somam 23.
A regressão à média, forçada, do bolsonarismo no poder, se de fato ocorrer, não deixará de representar mais um triunfo das instituições republicanas. Elas têm mostrado de forma peremptória os limites da Constituição ante arroubos tresloucados de um aventureiro.
Mas é cedo para dizer que se consolidou um novo eixo no governo e que ele funciona no mínimo como seguro do presidente contra a deposição legal. Bolsonaro carregará consigo o germe da instabilidade enquanto estiver no cargo.
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