Episódio
do dinheiro “entre as nádegas” de Chico Rodrigues é mais um símbolo que servirá
para balizar estes tempos
‘Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram
de briga de homem não, Deus esteja”. João Guimarães Rosa inicia assim “Grande
sertão: veredas”, um dos mais extraordinários romances da língua portuguesa.
“Não tem nada a ver (...) querer vincular o fato de ele ser vice-líder com a
corrupção do governo”. Jair Bolsonaro encerra desta forma uma das últimas
farsas do seu mandato. Referia-se ao senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado
pela Polícia Federal com dinheiro na cueca, e que, segundo o presidente,
“gozava de prestígio e carinho de quase todos”.
Na
verdade, Bolsonaro enterrou muito antes a promessa de fazer um governo
honesto, distante da banda podre do Congresso Nacional. O primeiro passo foi
deixar embarcar no seu bonde a velha e conhecida turma do centrão. O senador de
Roraima é um quase nada se comparado aos próceres daquele agrupamento. Gente
como Arthur Lira, Ricardo Barros, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto responde
a todo tipo de ação na Justiça: fraude em licitações, formação de quadrilha e
organização criminosa, lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito e até
violência doméstica. O centrão foi criado pelo ex-deputado Eduardo Cunha, que
se solto estivesse, certamente apoiaria o governo.
O
episódio do dinheiro “entre as nádegas” de Chico Rodrigues é mais um
símbolo que servirá para balizar estes tempos. Da mesma forma que um outro
episódio de dinheiro escondido na cueca marcou o governo Lula em 2005, quando
um assessor do líder do PT José Guimarães foi detido num aeroporto de São Paulo
com R$ 100 mil escondido nos fundilhos. Símbolos não faltam nos dias de hoje.
No caso da corrupção, houve dois, este do senador da cueca e o da demissão do
ministro Sergio Moro. Ou mais, se você quiser incluir os casos das rachadinhas
dos filhos que obrigou a aproximação do pai ao Supremo.
Aos
poucos, e por contingências nunca nobres, Bolsonaro foi se distanciando
dos enunciados da sua campanha e confirmando o que se sabia dele desde o
começo, trata-se de um político comum. As promessas de campanha não eram nada
mais do que blá-blá-blá. Hoje, o presidente mantém apoio apenas às causas mais
retrógradas e que ainda aglutinam parte do seu eleitorado: o apoio às armas, às
igrejas evangélicas e ao movimento escola sem partido, e a proibição do aborto,
por exemplo. Mesmo na economia, embora ainda seja contido eventualmente pelo
ministro Paulo Guedes, já falou em furar o teto de gastos, atribuindo a
terceiros a vontade de discutir o assunto.
No
campo ideológico, foi orientado pelo centrão a se afastar da gangue de
Olavo de Carvalho. Acabaram as passeatas com bandeiras pintadas no mesmo galpão
pedindo o fechamento do Supremo e a prisão de Rodrigo Maia. Os haters da
internet continuam lá, mas não têm mais o beneplácito explícito do capitão e
dos seus três zeros. Isso não significa que não possam voltar a qualquer
momento, bastando um estalar de dedos de Bolsonaro. Estão de prontidão, ou de “stand
by”, como diria Donald Trump. Eles se envergam facilmente e no fundo o que
querem mesmo é dinheiro público.
Por
isso, o presidente tem causado estupefação na maioria dos seus seguidores.
O que foi feito daquele homem de 2018? Nada. Ele simplesmente não existia. O
único e verdadeiro é este que se alia ao centrão, que se cerca de parlamentares
do baixo clero, que acha que todo homem fardado é um virtuoso, que não sabe
falar direito, que ri da desgraça alheia. Um presidente vulgar, igual a
qualquer um dos seus bons e velhos amigos, como o Chico Rodrigues, que antes de
se eleger senador foi deputado e parceiro de Bolsonaro em quatro dos seus sete
mandatos parlamentares.
A
delegada do PT
A
delegada de polícia Adriana Accorsi é a candidata do PT para a prefeitura de
Goiânia. Trata-se de um caso típico de dupla personalidade. Adriana é filha de
Darci Accorsi, figura histórica do partido que foi prefeito de Goiânia nos anos
1990. Ao assumir a persona de delegada, Adriana quer atrair os eleitores
bolsonaristas que adoram um farda ou um distintivo. Claro que ela é
delegada, mas em outros tempos não faria propaganda dessa condição. No Rio, o
candidato a vice na chapa do PSOL é um coronel da mal afamada PM carioca. Por
estas e outras é que cresceu 21% o número de candidatos fardados desde as
eleições de 2016.
A
causa do operário
Rui
Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), disse, em entrevista ao
site companheiro Brasil 247, que o PT abandonou o apoio a Lula na
recuperação dos seus direitos políticos. Pimenta também atacou Guilherme
Boulos, candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, em razão do seu apoio à
tese de uma frente ampla contra Bolsonaro. Portador de naniquismo clássico, Rui
Pimenta mostra bem como anda mal a esquerda.
Todos
querem mais
Dez
dos 54 países africanos fazem eleições presidenciais nos próximos cinco meses.
E, destes, nove têm seus presidentes concorrendo à reeleição. Não tem erro,
todos os que estão no poder adoram uma reconduçãozinha. Basta acompanhar,
eles farão o diabo para se reeleger.
Até
Lincoln
Aqui
e ali sempre se descobrem exageros em manifestações públicas. No início desta
semana, grupos de apoio a comunidades indígenas nos EUA derrubaram uma estátua
de Abraham Lincoln, o presidente americano que fez uma guerra civil para
acabar com a escravidão. Acusaram-no de ter mandado à forca 38 índios que
participaram de um levante no estado de Dakota, em 1862. A história conta uma
versão diferente. Logo após o confronto, que deixou entre 450 e 800 civis
mortos, 303 sioux foram condenados à forca por um tribunal militar. Exercendo
seu poder presidencial, Lincoln suspendeu a execução e salvou a vida de 265
deles por entender que os casos estavam mal instruídos.
Carro
elétrico
No
Brasil, ainda em 1974, um inovador criou e apresentou ao mercado o primeiro carro
elétrico nacional. O engenheiro João Amaral Gurgel, que cinco anos antes criara
o primeiro carro brasileiro, inventou o veículo elétrico no auge da crise
global do petróleo.
No
ano anterior, os membros da Organização dos Países Produtores de Petróleo
(Opep), majoritariamente árabes, embargaram as vendas para países simpáticos a
Israel na Guerra do Yom Kippur e, em seguida, quadruplicaram o preço do produto.
A invenção de Gurgel tinha tudo para ser um sucesso, mas naufragou.
Mesmo no governo do austero e virtuoso general Ernesto Geisel, quem dava as
cartas eram as grandes petroleiras.
Nyt
x Nyt
Independência
é isso. O jornal “The New York Times” produziu uma excelente reportagem
denunciando uma jornalista graduada de seus próprios quadros. Este é diferente
do caso de Jayson Blair, jornalista do “NYT” acusado em 2003 de fraudar e
plagiar reportagens, e que mereceu matéria do próprio jornal depois dele se
demitir.
O
caso de Rukmini Callimachi, que criou um falso terrorista para dar
cores mais vivas a um podcast que faz para o jornal, foi publicado com ela
trabalhando regularmente para o veículo. Quem a denunciou foi um repórter de
mídia do “NYT”.
Barra
pesada
Se
fosse aqui, a campanha de Donald Trump teria sido no mínimo multada pelo TSE,
tamanha a sua agressividade. Biden é retratado como um velho gagá em
todos os spots de propaganda. A campanha democrata também não fica atrás.
Embora seja menos agressiva, tripudia com os maneirismos do adversário.
Adeus
esporte
Cerca de 30% dos jovens que interromperam alguma prática esportiva em razão da pandemia não querem voltar à atividade depois de passada a crise. Muitos disseram a pesquisadores do Aspen Institute que só reassumirão a prática esportiva se forem muito bem convencidos. É grave a crise.
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