Eleições
municipais definem o ‘grid de largada’ para o próximo pleito presidencial
Os
dias anteriores às eleições municipais são úteis
para que o eleitor compare os candidatos. O monitor do Estadão fez
um excelente cotejo de propostas, e esta coluna iniciará na próxima semana uma
série de podcasts sobre os principais temas do debate.
Existe,
no entanto, outro aspecto nas eleições municipais brasileiras. Descasadas das
federais e estaduais, elas definem uma espécie de “grid de largada” para o
próximo pleito presidencial. Prefeitos de grandes capitais se credenciam
automaticamente a disputar o Planalto – como ocorreu recentemente com Fernando Haddad. O xadrez das
prefeituras também define, entre as candidaturas presidenciais já insinuadas,
quem jogará com vantagem.
O tabuleiro deste ano apresenta um componente extra. O presidente da República não tem partido e é candidatíssimo à própria reeleição. Em que condições ele vai emergir dos pleitos municipais?
Bolsonaro
tem sido objeto de estudo de vários cientistas políticos, entre eles Fernando Guarnieri, do
Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj. Guarnieri descarta as
explicações simplistas para a vitória do presidente em 2018, que repetem
clichês como a polarização política ou o antipetismo. Seus estudos, em parceria
com outros cientistas políticos de renome, mostram que um fator determinante
foi a fragmentação – e depois a implosão – das direitas.
“Nem
Alckmin, nem Amoêdo, nem Meirelles criaram candidaturas com chances de vitória.
No final, Bolsonaro passou a ser a única alternativa viável para o eleitor à
direita do espectro político”, diz Guarnieri, personagem do minipodcast da
semana. Tal eleitor, segundo mostram os estudos, votou em Bolsonaro mesmo
discordando de algumas de suas teses, como a defesa da ditadura militar ou a
liberação do porte de armas. As pesquisas atestam que tais ideias são
minoritárias entre os brasileiros.
Em
2018, Bolsonaro unificou as direitas. Agora, depois de eleito, vem falando
prioritariamente para apenas uma delas – a que os memes dos seus
correligionários chamam de “direita de verdade”. Segundo Guarnieri, o presidente
trabalha para criar um bloco parlamentar que represente a tendência.
Aproximou-se de dois partidos, o PP e o Republicanos, além de cortejar o
Centrão. Nesta semana, como mostrou reportagem do Estadão, o bloco bolsonarista
pressionou o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para colocar em votação
as pautas conservadoras caras ao presidente.
No
grid de largada municipal, os dois pilotos da “escuderia Bolsonaro”
seriam Marcelo Crivella e Celso Russomanno, ambos do
Republicanos, candidatos respectivamente no Rio de Janeiro e em São
Paulo.
As
direitas, no entanto, podem se fragmentar de novo nas eleições municipais.
Guarnieri vê vários políticos posicionando seus bólidos na pista. Ele cita os
casos de João Doria,
que tem usado a estrutura do PSDB para turbinar postulantes a prefeituras no
Nordeste, ou o próprio general Mourão, que vem fortalecendo
seu PRTB ao aparecer na propaganda de candidatos do partido. Nas esquerdas já
se vê também fragmentação, com o PSOL, o PSB e o PCdoB apresentando
candidaturas fortes.
Para nós, eleitores, nada é mais importante do que as propostas concretas para as nossas cidades. É também fundamental ficar atento, no entanto, a quem se beneficia com cada candidatura. Para isso, é necessário prestar atenção ao ronco dos motores no grid de largada.
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