O
panorama atual é bem diverso. O País está amorfo, naquele, como diria Monteiro Lobato, mutismo de peixe
Tivemos, no Brasil, o momento mais complexo deste século. Há uma junção de crises: econômica, política, sanitária e de valores. Para piorar há também uma ausência de lideranças em todos os setores, mais precisamente uma crise das elites. Assim como no futebol, o vazio acabou sendo ocupado. E por indivíduos absolutamente sem preparo frente a desafios tão grandes. Os 21 meses do governo Bolsonaro demonstram de forma inequívoca que sem uma profunda renovação política o país tende à paralisação, sem condições de poder enfrentar os graves problemas nacionais.
O
Brasil passou no século passado por uma turbulência tão ou mais grave que a
atual. Se reportarmos a crise de 1929 podemos observar que ao desastre
econômico foi somado uma grave crise política, a sucessão presidencial de
Washington Luís, que acabou conduzindo à Revolução de outubro de 1930. As
condições para a recuperação econômica eram muito mais difíceis que as atuais.
O Brasil dependia na pauta das exportações fundamentalmente do café. Tínhamos
uma tímida diversificação econômica. E sérios problemas estruturais. Mas,
diversamente dos tempos atuais, havia lideranças e planos, muitos planos para
sair da crise, entre as diversas correntes políticas.
O
debate era intenso e com reflexões muito além do cotidiano da política. Basta
citar a explosão da literatura brasileira nos anos 1930, as grandes explicações
do Brasil (Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda), tudo
isso em meio a uma tensa conjuntura mundial caracterizado por regimes
adversários da democracia como o salazarismo, franquismo, fascismo, nazismo e
stalinismo. Internamente tivemos confrontos, de vários matizes ideológicos,
como a Revolução Constitucionalista de 1932 e a rebelião comunista de 1935.
Mesmo assim, o país encontrou um caminho que permitiu a modernização da
economia, a ampliação do aparelho estatal e um posicionamento internacional que
levou em conta os interesses nacionais frente aos imperialismos americanos e alemães
(nazista).
O panorama atual é bem diverso. O país está amorfo, naquele, como diria Monteiro Lobato, mutismo de peixe. Só a pandemia não explica esta situação. Há uma crise profunda do sistema político. Nele mora o cerne do problema. Sem modificá-lo — e é uma tarefa complexa e gradual — as crises serão cada vez mais graves e longas no tempo. Esta década que está terminando reforça esta análise: 2015-2016, pior biênio da história econômica republicana, e em 2020 uma queda dramática do PIB.
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