Quando
todo o mundo se prepara para uma campanha massiva de vacinação contra a
Covid-19, o presidente Bolsonaro continua a fazer campanha contra a vacina.
Como
quem fazia um comentário banal, deu uma declaração absurda: “Se as vacinas
tiverem efeito colateral, não podem me culpar”. Uma atitude irresponsável,
porque coloca dúvida e medo no cidadão comum. Ele trabalha contra a vacinação,
não apenas contra a vacinação obrigatória. Um negacionismo a toda prova.
Lançar
dúvida sobre a eficácia das vacinas, que estão sendo produzidas pelos
principais laboratórios farmacêuticos do mundo e sob supervisão internacional,
é quase um crime em uma pandemia mundial. O pior é que o ministro da Saúde,
General Pazuello, supostamente à frente do ministério por ser um especialista
em logística, acha que o tratamento preventivo é a grande solução.
Os verdadeiros médicos estão irritadíssimos, porque as pessoas vão começar a se automedicar, tomar remédios preventivos, sem nenhum resultado, porque ainda não existe remédio que resolva. Porque acredita nessas baboseiras, e não acredita na vacina, o governo atrasa a logística da vacinação, a negociação das vacinas.
A
vacina da Pfizer, que é reconhecidamente mais complicada de logística de
armazenamento, pois exige uma refrigeração de -70 graus, foi praticamente
descartada pelo governo, mas vários países da América Latina, como Costa Rica,
México, Chile, Equador, Panamá estão montando a logística especial para
recebê-la.
Aqui
no Brasil, a Bahia anunciou que já está comprando refrigeradores especiais para
armazenar as vacinas da Pfizer e da Moderna, dos Estados Unidos. Sem falar nos
países europeus que começarão a vacinação ainda em janeiro.
O
grande problema é que o governo parece não querer fazer uma política nacional
de vacinação contra Covid-19, provavelmente acha que vacinação não é a solução,
assim como Bolsonaro continua com a ideia de que usar máscara é uma bobagem -
“o último tabu que vai cair”-, e que o distanciamento social não previne
nada.Como insiste em dizer nosso “especialista” Bolsonaro, todo mundo vai pegar
a Covid-19 e vai acontecer a tal da imunidade do rebanho para resolver a
questão.
O
ponto não é esse, é quanta gente vai morrer mais enquanto a imunização natural
não se completa? Já estamos novamente com números de contaminados e de mortes
em escala crescente, e a segunda onda parece uma realidade cada vez mais
próxima no país. Enquanto isso, Pazuello, seguindo o pensamento de Bolsonaro,
fala em onda de suicídios, de depressão, “mortes advindas do desastre econômico
e social”.
Mas
Bolsonaro está dando uma orientação burra ao seu governo, até mesmo do ponto de
vista de quem, como ele e Pazuello, dá mais importância à recuperação econômica
do que ao combate à Covid-19. A vacinação imediata sendo mais eficaz, a
economia será retomada mais rapidamente, mas ele não consegue entender isso. E
faltam até mesmo as seringas para a vacinação em massa. As empresas produtoras
dizem que o último contato com o governo foi em setembro, e nada evoluiu de lá
para cá.
Tudo
indica que vamos ter problema sério a partir de janeiro. O governador de São
Paulo, João Doria, anunciou ontem que a Coronavac, de origem chinesa que está
sendo produzida pelo Instituto Butantã a partir de matéria prima do laboratório
Sinovac, vai estar disponível para vacinação já em janeiro, e espera que a
ANVISA libere logo. Também em janeiro, a Fiocruz já vai produzir 30 milhões de
doses da vacina da empresa AstraZeneca em colaboração com a Universidade de
Oxford, mas o governo só quer começar a distribuição a partir de março.
Tem gente que diz que uma boa aposta é entre abril e maio, porque a estrutura para a distribuição tem que ser montada. Já devia estar pronta, pois temos o know-how de vacinação nacional contra gripes e outras doenças, mas não está. Nosso especialista em logística ainda não sabe como organizar uma vacinação em massa.
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