Na
quarta-feira, o primeiro-ministro Boris Johnson anunciou que os britânicos
começarão a ser imunizados contra a Covid. Horas depois, Jair Bolsonaro voltou
a lançar dúvidas sobre a eficácia das vacinas. “Se tiver um efeito colateral ou
um problema qualquer, já sabem que não vão cobrar de mim”, afirmou.
O
negacionismo do presidente já ajudou a alçar o Brasil à segunda posição no
ranking de mortes pelo coronavírus. Nos últimos meses, Bolsonaro torpedeou as
medidas de distanciamento, estimulou aglomerações e ejetou dois ministros em
plena pandemia. Agora ele lidera uma campanha contra a vacina. É mais um
atentado contra a saúde pública, cometido à luz do dia e sem reação do
Congresso.
Na
semana passada, o capitão informou que não pretende tomar a vacina. “Eu não vou
tomar, é um direito meu”, disse. A estupidez pode ser um direito, mas sabotar a
imunização coletiva não é. Além de minar a confiança na ciência, Bolsonaro
desmobiliza a máquina do governo, que deveria estar empenhada em proteger a
vida dos brasileiros.
O ministro Eduardo Pazuello é um retrato da paralisia federal. Na quarta, ele disse a parlamentares que “não se fala mais em afastamento social”. Em seguida, definiu a escalada dos números da Covid como “um pequeno aumento”. No Rio, já foi o suficiente para lotar os hospitais e levar o sistema de saúde ao colapso, segundo atestou a Fiocruz.
O
Estado tem a maior taxa de mortalidade do país, mas também está entregue a um
negacionista. Teleguiado por Bolsonaro, o governador interino Cláudio Castro
tem ignorado os alertas de médicos e cientistas. Ontem ele voltou a descartar
medidas de isolamento para reduzir a circulação do vírus.
Nove meses depois da chegada do vírus, o Rio vai inaugurar hoje um arremedo de testagem em massa. Serão abertos apenas três locais para receber a população, nenhum deles na capital. O carioca que tiver sintomas da Covid terá que se deslocar por conta própria até São Gonçalo ou Volta Redonda. Não basta a espera pela vacina: também é preciso lidar com a falta de governo.
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