Deve
ser instaurado hoje no Conselho de Ética da Câmara o processo por quebra de
decoro contra o deputado bolsonarista Daniel Silveira, podendo culminar com a
pena exemplar de cassação do mandato. Ele foi preso por ter divulgado um vídeo
criminoso em que exalta a ditadura militar e ameaça até fisicamente ministros
do Supremo Tribunal Federal.
Como
se explica que desperte atenção um personagem de quem até há pouco tempo não se
sabia nem o nome todo e que se elegeu graças à imagem em que aparece quebrando
a placa em homenagem à vereadora Marielle Franco? Na verdade, em lugar de
biografia, esse ex-cobrador de ônibus e ex-soldado da PM ostenta uma folha
corrida, da qual constam desvio de dinheiro público, desacato e falsificação de
documentos, inclusive atestados médicos.
Por que essa repercussão de um episódio que nem inédito é, já que há dois anos a deputada federal Bia Kicis, do PSL, publicou uma live com quase 100 mil visualizações em que o presidente do PTB, Roberto Jefferson, propõe “aposentar compulsoriamente” os 11 ministros do STF?
Daniel
Silveira faz parte das milícias bolsonaristas e, por isso, vem sendo tratado
com deferência pelas polícias Federal e Militar. Ao ser preso, deixou os
agentes esperando, enquanto, sozinho e à vontade, fazia uma live. No Instituto
Médico-Legal, recusou-se a colocar a máscara e xingou de “folgada” a policial
que exigia dele o cumprimento da norma obrigatória.
Depois,
já preso no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em Niterói,
encontrou apoiadores e anunciou: “Vou mostrar para o Brasil quem é o STF”. Sem
máscara, como sempre, o preso conversou com os integrantes do Movimento
Endireitando Niterói, que filmaram a interação com o deputado enquanto gritavam
palavras de ordem. Ele também apertou a mão de alguns apoiadores através do
portão que os separava.
Depois,
usando a tática bolsonarista de atacar e recuar, de ofender e pedir desculpas,
dependendo das reações, Silveira fez um ato de contrição, confessando-se
culpado e pedindo perdão ao país.
Em
Copacabana, bolsonaristas se reuniram para cantar o Hino Nacional e pedir a
libertação de Silveira, com declarações como a de uma senhora: “Parabéns,
Daniel, você é patriota e merece tudo de bom”.
O
retrato que dele fez Chico Caruso ajuda a entender o fenômeno. Com a genial precisão
que costuma traduzir as metáforas, o artista desenhou o personagem como um
homem sem cabeça, ou melhor, com a cabeça enterrada num corpo marombado, feito
só de músculos — inclusive o cérebro. Daniel Silveira não tem inteligência para
ser causa, é sintoma de uma tendência extremista e antidemocrática.
Há dias Bolsonaro afirmou que “o certo” era tirar de circulação O GLOBO, “Folha de S.Paulo”, “Estadão”, “Antagonista”. E que não faria isso porque é um democrata. Agora, afirma que, se tudo dependesse dele, não seria este “o regime que estaríamos vivendo”. Não é difícil adivinhar o sonho de poder absoluto de quem já declarou: “A Constituição sou eu”.
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