O
governo deu uma guinada populista e estatizante para agradar a base eleitoral
de Bolsonaro e consolidar o poder dos generais do Palácio do Planalto
A
troca de comando na Petrobras — o executivo civil Roberto Castello Branco foi
substituído pelo general Luna e Silva na presidência da empresa — provocou uma
queda de 21% das ações da companhia, o que representa uma perda no seu valor de
mercado que já supera R$ 100 bilhões. Ameaças de troca de comando na Eletrobras
e no Banco do Brasil também tiveram muito impacto no mercado financeiro, o que
fez a Bovespa cair 5% e o dólar, fechar cotado a R$ 5,45, uma alta de 1,26%,
mesmo com o Banco Central (BC) vendendo US$ 1,5 bilhão em linha direta.
O mercado não está só especulando, o que é normal quando há mudanças desse tipo. Está mesmo à beira de um ataque de nervos, porque a situação geral do país é complicada: (1) o Brasil está isolado internacionalmente, na contramão da política de Joe Biden; (2) a segunda onda da pandemia está fora de controle em várias cidades do país, com a média de mortes acima de 1.000 óbitos/dia; (3) a manutenção da prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) pela Câmara mostrou que o Centrão não apoia Bolsonaro para o que der e vier (os bolsonaristas podem não chegar a 130 deputados); (4) o presidente da Câmara, deputado Artur Lira (PP-AL), em entrevista à Veja, deixou claro que seu acordo com o Palácio do Planalto não incluiu a reeleição de Bolsonaro em 2022.
O
governo deu uma guinada populista e estatizante para agradar a base eleitoral
de Bolsonaro e consolidar o poder dos generais do Palácio do Planalto, com a
militarização da direção das principais empresas estatais. Com isso, o ministro
da Economia, Paulo Guedes, corre o risco de virar um “anão de jardim” na
Esplanada dos Ministérios. Ninguém sabe o que Guedes pretende fazer, mas o
mercado financeiro o considerou uma figura ornamental nessa troca na Petrobras,
ou seja, perdeu a credibilidade. Numa reunião com empresários, ontem, o líder
do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), indagado sobre eventual saída de Guedes,
respondeu com indiferença: paciência. Caso isso ocorra, o Centrão já tem
candidato: Rogério Marinho, o ministro da Integração Nacional, que é economista
e foi o negociador das reformas trabalhista, no governo Michel Temer, e
previdenciária, no primeiro ano de mandato de Bolsonaro.
A
nomeação do general Luna e Silva, que já foi diretor de Orçamento e Finanças do
Exército e ministro da Defesa, não passou pelo ministro da Economia, foi uma
indicação dos generais do Palácio do Planalto. Guedes foi abduzido pelos
militares, mas minimiza os efeitos da troca de comando na Petrobras e vê a
queda das ações como um fenômeno normal no mercado financeiro, no qual sempre
atuou. Avalia que a aprovação da PEC pelo Senado será uma conquista mais
importante do que os efeitos da intervenção na Petrobras. A equipe econômica
também estaria elaborando um novo programa de privatização, que incluiria a
criação de um fundo destinado à transferência de renda, o que agradaria o
presidente Bolsonaro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG),
pretende votar a PEC Emergencial na próxima quinta-feira.
O general Luna e Silva terá de convencer os acionistas da Petrobras de que não é um pau mandado do presidente da República, como acontece com o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que atua na base do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. O problema do governo é que os acionistas da empresa podem entrar na Justiça exigindo indenização da companhia, principalmente os estrangeiros, em razão dos prejuízos causados pela intervenção indevida do governo na política de preços de combustíveis. Com ações na Bolsa de Nova York, a Petrobras já cortou um dobrado com esses acionistas, que processaram a empresa nos Estados Unidos por causa do escândalo do petrolão.
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