General
é a aposta para as crises do diesel e da energia
O
presidente Jair Bolsonaro tem se notabilizado por jogar com as cartas abertas
sobre a mesa. Após a intervenção na Petrobras, já anunciou que promoverá novas
trocas no governo: “Mudança comigo não é de bagrinho, é de tubarão”. Pescador
profissional, ele contou para os peixes que lançou a tarrafa.
Indicado
para a presidência da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna nunca foi uma
carta na manga. Ele foi apresentado como um dos homens da máxima confiança do
presidente no segundo dia de governo.
Pelas
idiossincrasias da política, declarações do presidente na posse do ministro da
Defesa, Fernando Azevedo e Silva, no dia 2 de janeiro de 2019, ainda
repercutem, e estão relacionadas às principais crises da última semana.
Naquela
solenidade, Bolsonaro trouxe à luz a estreita amizade com o então comandante do
Exército, Eduardo Villas Bôas. “Meu muito obrigado, comandante Villas Bôas. O
que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por eu
estar aqui”, afirmou, em uma inconfidência que gera desassossego até hoje.
Villas Bôas não expôs no controvertido “Conversa com o comandante”, da editora FGV, o conteúdo dessas conversas. Mas a revelação dos bastidores dos tuítes que pressionaram o Supremo Tribunal Federal na véspera do julgamento do “habeas corpus” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva produziu a folia mais agitada da atual gestão, desde o “golden shower”, culminando na prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).
Na
mesma cerimônia, Bolsonaro tornou público seu apreço ao ex-ministro da Defesa
do governo Michel Temer, anunciando que Silva e Luna, “um excelente homem”,
integraria sua equipe. “Ele não vai botar o pijama, não!”
Menos
de dois meses depois, em 21 de fevereiro de 2019, Silva e Luna seria nomeado
diretor-geral brasileiro de Itaipu Binacional.
Representante
da ala militar não palaciana, avesso aos holofotes de Brasília, o ex-ministro
de Temer projetou-se como um dos quadros mais prestigiados pelo presidente.
Nestes
dois anos, Bolsonaro compareceu a oito eventos da binacional no Paraná. Nesta
quinta-feira, o presidente estará novamente no palanque ao lado do general em
uma solenidade da hidrelétrica.
Esse
é o pano de fundo da relação entre Bolsonaro e o ex-ministro, que culminou na
conturbada intervenção na Petrobras, e no derretimento do valor da companhia.
Desse
episódio, Silva e Luna emerge como o homem de confiança de Bolsonaro em meio a
nova crise com os caminhoneiros, e, simultaneamente, para iluminar caminhos
para a redução da tarifa de energia.
Bolsonaro
avisou apoiadores que também vai “meter o dedo na energia elétrica, que é outro
problema”. O presidente ouviu de Silva e Luna que Itaipu é uma das soluções.
Após
dois anos na direção-geral brasileira da hidrelétrica, Silva e Luna tem
expectativa de que, no ano que vem - ano eleitoral -, a tarifa de energia tenha
queda substancial devido à amortização relevante de parcela da dívida da
binacional, que deve ser integralmente quitada em 2023. “Será a energia mais
barata do país”, tem dito Silva e Luna.
Sobre
a Petrobras, o general nega que Bolsonaro lhe tenha encomendado mudanças na
política de preços dos combustíveis.
Nos
bastidores, entretanto, sabe-se que Bolsonaro se irritou com o desdém de
Castello Branco em relação às queixas dos caminhoneiros, seu eleitorado cativo.
Por isso, o presidente espera que o general tenha sensibilidade com esse
público, com quem dialogou quando era ministro na greve de 2018.
Silva
e Luna afirma que todo general tem uma missão imposta, e outra que é deduzida.
A dedução do mercado é que Bolsonaro lhe incumbiu de resolver a crise dos
combustíveis.
Mas
o general deu sinais de querer trabalhar em sintonia com a diretoria-executiva
e o conselho de administração. “Isso aí [alta dos preços] são considerações que
têm que ser analisadas junto com o conselho, junto com a equipe”, disse ao Valor.
O
economista- chefe da Guide Investimentos, João Maurício Rosal, observa que o
mercado ainda não analisou as credenciais do general Silva e Luna para assumir
o comando da Petrobras porque o ambiente de desconfiança gerado pela
intervenção na companhia impede avançar uma casa num tabuleiro onde explodiram
uma mina.
“A
sinalização de que o controlador pode tomar decisões “ad hoc”, sem grandes
explicações que não sejam ligadas ao valor da companhia vai pairar como um
espectro por muito tempo. Reputação é difícil para uma empresa conquistar, mas
é fácil de se perder”, diz Rosal.
O
economista afirma que superar essa desconfiança vai ser missão hercúlea para o
general. “Ele vai ter esse peso para carregar, essa desconfiança não se
dissolve da noite para o dia”.
Rosal
reconhece, entretanto, que a crise do preço dos combustíveis também é um
espectro que volta e meia assombra os governos. Pedro Parente, a quem se
atribui o primeiro movimento significativo de recuperação da empresa após a
Lava-Jato, deixou o cargo na esteira da crise provocada pela greve dos
caminhoneiros de 2018.
Por
isso, Rosal sugere que o governo busque uma solução, citando o exemplo do
Chile, que instituiu por um período longo um mecanismo, com gatilhos acionados
sob critérios específicos para gerir a oscilação dos preços.
“Talvez o pais não esteja preparado para conviver com um mercado onde o preço dos combustíveis siga os preços internacionais, dada essa sensibilidade política. Mas o governo precisa pensar num mecanismo para o mercado de combustíveis, e não optar pela ingerência na Petrobras”, diz o economista. A alternativa seria encontrar uma política de preços final para o consumidor capaz de suavizar os ciclos internacionais sem comprometer a saúde fiscal do país”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário