E quem pensava que já assistira a tudo....
Além da Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, onde pulsa o coração do mercado financeiro, quem mais votou em Jair Bolsonaro para presidente por acreditar na sua súbita conversão ao liberalismo de Paulo Guedes, seu futuro ministro da Economia?
A
massa gigantesca de votos que quase o elegeu direto no primeiro turno pouco ou
nada entende de liberalismo e de economia, juntos ou separados. Havia um desejo
gigantesco de mudança e uma repulsa generalizada à política tradicional.
Então
se escolheu um até então desconhecido deputado federal do baixo clero que se
dizia não político e contra tudo o que ali estava. Portanto, não se diga agora
que ele traiu seus eleitores ao intervir na Petrobras. Pode ter traído, se
muito, a Brigadeiro Faria Lima.
É
no que dá acreditar naquilo que não é, mas que se gostaria que fosse. O capitão
que repetia o pouco que Guedes lhe ensinou revelou-se outra vez o estatizante
que sempre foi. É curioso que até aqui somente o PT tenha saído em seu socorro.
Bolsonaro e PT, tudo a ver em alguns pontos: ambos anti-mercado, anti-capitalismo e pró-estatizante. Ambos populistas com um forte viés autoritário que pelo menos Lula, em seus dois governos, tentou por sabedoria amenizar, mas Dilma mão de ferro, não.
Filho
de um general nacionalista que morreu, o economista Aloizio Mercadante (PT-SP),
que foi ministro da Educação e da Casa Civil do governo Dilma, apressou-se
eufórico em mandar um recado para os militares brasileiros:
–
Não se rendam ao mercado financeiro e aos interesses especulativos. Parem a
privatização das refinarias, defendam uma Petrobrás forte e tragam uma política
de preços justa para o povo, para os caminhoneiros e para os motoristas de
aplicativos.
Saudou
o general Joaquim Silva e Luna, o futuro presidente da Petrobras, como “um
militar nacionalista”. Lembrado de que Bolsonaro extrairá dividendos eleitorais
caso controle os novos reajustes de preços dos combustíveis, justificou-se:
–
Ao contrário daqueles que nos golpearam, não apostamos no quanto pior, melhor.
Assim como defendemos o auxílio-emergencial, temos que defender uma Petrobrás
para os brasileiros. O povo brasileiro está sofrendo agora.
De
fato, está, e não só por conta do vírus que continua matando, e da falta de
vacina que se agrava, mas também porque a intervenção na Petrobras tornou o
Brasil mais caro para os que vivem cá, e mais barato para os estrangeiros. Na
vida real é isso.
Foi
de 21,6% a queda do preço das ações preferenciais da Petrobras no primeiro dia
útil após anúncio da intervenção, e de 20,4% nas ações ordinárias. O Ibovespa
perdeu 4,87%. O dólar subiu 1,30%, O preço das ações do Banco do Brasil caiu
11,64%.
Investidores
da Petrobras preparam uma ação coletiva para questionar as perdas. A troca de
presidentes fez a empresa perder 102,5 bilhões em valor de mercado. Até a
semana passada, quem tomava emprestado 100 reais pagava 110. Ontem, pagou 120.
“Ninguém
vai interferir na política de preços da Petrobras”, declarou Bolsonaro ante a
reação do mercado. No último final de semana, ele afirmou que vai reduzir em
15% o preço do diesel e da gasolina. O que ele diz não se escreve, mas produz
estragos.
O
economista Roberto Castelo Branco, que passará o cargo ao general Luna, era bem
tratado pelo governo até outro dia. Se a política que ele conduzia na Petrobras
não sofrerá nenhum tipo de alteração, por que mandá-lo embora?
Certamente
não será porque Bolsonaro queria que ele investisse numa campanha milionária de
propaganda do governo a ser veiculada no SBT e na Record, emissoras que fazem
parte do Sistema Bolsonarista de Televisão. Castelo Branco não quis.
Em
queda nas pesquisas de intenção de voto, sem que a economia se recupere como
ele havia prometido, com a inflação em alta e com o índice de desemprego se
aproximando dos 18%, o problema de Bolsonaro não é Castelo Branco, mas Guedes.
No
fundo, para seguir sonhando com a reeleição, Bolsonaro precisa libertar-se das
amarras do ministro da Economia para gastar mais e fazer negócios. A Petrobras
é uma mina de negócios como demonstrado por governos anteriores.
O
Brasil só não quebrou ao fim do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso
porque Bill Clinton, à época presidente dos Estados Unidos e amigo dele,
socorreu-o com um empréstimo. Reeleito, Fernando Henrique desvalorizou o Real.
O
ciclo da valorização das commodities evitou que o Brasil quebrasse durante a
crise financeira mundial de 2008. Lula, o presidente, cambaleava sob os efeitos
do escândalo do mensalão do PT e as contas públicas desarrumadas. Sobreviveu.
Para
reeleger-se, Dilma segurou o reajuste de preços dos combustíveis e da energia
elétrica, causando um rombo nas empresas envolvidas que repercutiu em toda a
economia. Depois, quando quis voltar à ortodoxia, não teve mais tempo.
Sem risco de impeachment e com o apoio militar que Mercadante tanto preza, Bolsonaro poderá ir no rastro de Dilma na esperança de se dar bem. Quanto à Brigadeiro Faria Lima, não passa de “um rebanho eletrônico”. Foi o general Mourão quem disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário