Folha de S. Paulo
A crença em Tupã goza da mesma proteção do
Estado que a crença no Deus cristão
A bancada da Bíblia está em pé de guerra
com o ministro Luís
Roberto Barroso, do STF. O magistrado acaba de reafirmar uma decisão da
corte que proíbe, durante a pandemia, missões religiosas de entrar em
território de índios isolados ou de contato recente. Na opinião dos pios
parlamentares, a decisão é “claramente orientada por ideologia declaradamente
anticristã” e promove “perseguição religiosa”.
Besteira. O Supremo não proibiu apenas missionários cristãos de contatar os índios, mas “quaisquer terceiros, inclusive membros integrantes de missões religiosas”. Na verdade, ao esclarecer o alcance da decisão, Barroso até que pegou leve com os cristãos, pois permitiu que as missões que já estavam nas aldeias antes da epidemia nelas permanecessem.
Na minha modesta opinião, tratando-se de
índios isolados ou semi-isolados, o correto seria proibir, em qualquer tempo,
não só na pandemia, quaisquer contatos, principalmente os de missionários.
Exceções só para emergências. Se uma equipe médica entra na aldeia para debelar
um surto de cólera, por exemplo, e sai em seguida, estamos diante de uma
interferência à qual a cultura indígena pode sobreviver.
Já o missionário, quando chega a uma
aldeia, vai com o propósito específico de destruir a cultura local. Ele,
afinal, dirá que tudo aquilo em que os índios sempre acreditaram está errado. E
a morte da cultura, como sabemos, é o prelúdio do alcoolismo, do suicídio e
outras mazelas que costumam afetar índios aculturados.
O Estado é laico, o que significa que, independentemente
do número de deputados evangélicos, a crença em Tupã goza da mesma proteção que
a crença no Deus cristão. Aliás, como Michael Shermer sempre lembra, nos
últimos 10 mil anos, os homens produziram cerca de 10 mil religiões com ao
menos mil deuses. Qual é a probabilidade de que Jeová seja o verdadeiro e Zeus,
Baal, Brahma, Odin, Tupã e mais 994 sejam todos falsos?
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