O Globo
O governador Eduardo Leite acha que nenhuma
reforma deve ser feita no governo Bolsonaro, sob o risco de o país “queimar as
boas pautas” ao vê-las transformadas em projetos ruins. Leite defende que o
país faça um programa de transferência de renda que tenha como foco as 17
milhões de crianças que vivem abaixo da linha da pobreza. O governador gaúcho
concorre às prévias do PSDB e disse que só a existência dessa disputa já mostra
uma mudança no partido, porque antes, em apenas uma eleição, o candidato saiu
de São Paulo. “Estou otimista, tenho muitos apoios, inclusive aqui em São
Paulo”. Leite estava na capital paulista quando conversei com ele, no domingo.
O senador Tasso Jereissati estava ontem indo para Brasília onde pretende hoje anunciar a desistência da candidatura. “É um movimento de partido em favor de Eduardo Leite”, me disse um integrante da sua assessoria. Além de Eduardo Leite, disputam as prévias o governador de São Paulo, João Doria, e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio. O governador gaúcho está em campanha nessa disputa interna, mas acha que, além de ter ideias para as prévias, precisa pensar com que propostas o partido deve lançar candidato. Na sua visão, o PSDB precisa ter um programa que some forte política de combate à pobreza, muito investimento em educação e também reformas. Ele citou duas, tributária e administrativa. Ponderei a ele que são as mesmas que o governo Bolsonaro está tentando fazer:
— Ele está fazendo da maneira errada. A
reforma tributária está ruim, a administrativa, se sair, será pior do que a
situação atual. Um governo frágil, sem agenda clara, se desdobrando para ficar
no poder é melhor que nem faça reformas. Ficará refém dos tantos lobbies que o
governo aceita para dizer que fez reforma. Acaba queimando a pauta. As reformas
não devem avançar no governo Bolsonaro sob risco de o país ver as boas pautas
queimadas e transformadas em coisas ruins. A reforma tributária tem que ser simplificação
e IVA na linha da proposta de Bernard Appy, que estava bem amadurecida.
Eduardo Leite terá primeiro que convencer
os integrantes do próprio partido, mas ele já traça o perfil do que o país
precisa para o próximo governo:
— Ele não precisa de mais um polo de
radicalização. Não é possível hostilizar os eleitores de outros candidatos e
depois de eleito dizer que quer reconciliar o país. Tem que ganhar do jeito
certo e falar do futuro, o Brasil que a gente quer. Estamos todos cansados
dessas brigas que transbordam da política para as famílias.
Um dos programas que ele acha necessário é combater a pobreza da infância.
Segundo ele o Brasil tem políticas, ainda que deficientes, para atenuar a
pobreza dos mais velhos, como previdência e BPC, mas precisa focar nas
crianças.
— O carro-chefe de um programa no Brasil
tem que ser a redução das desigualdades, a missão do governo tem que ser
combater esse abismo social que existe no Brasil e gerar oportunidades. Existem
17 milhões de crianças no Brasil vivendo em lares abaixo da linha da pobreza de
US$ 5,50 (PPP) per capita/dia, o que significa R$ 460 reais/mês.
Ele diz que o Bolsa Família focou, com
razão, na extrema pobreza, e que seriam necessários, para esse novo programa,
um valor adicional quase igual ao atual Bolsa Família, de R$ 35 bilhões:
— É muito? Não é pouco. Mas o Brasil gasta
R$ 360 bilhões por ano de benefícios fiscais. Mesmo mantendo 90% desses
benefícios será possível fazer esse programa.
A educação, segundo ele, teve avanços importantes nos últimos anos, mas o mais
urgente é o Ensino Médio. Ele precisaria se reconectar com os jovens que
tiveram que sair para trabalhar de alguma forma. A questão ambiental é outra
prioridade que começaria, segundo ele, com o combate ao desmatamento.
O governo Eduardo Leite assumiu o Rio
Grande do Sul quando o estado estava há três anos atrasando os salários, estava
há três meses sem pagar hospitais, com atraso de seis meses de repasse para as
prefeituras e devia a fornecedores da saúde R$ 1,1 bilhão. Além disso, as alíquotas
dos impostos estavam aumentadas. Ele iniciou uma reorganização do estado.
Começou pelas privatizações e reforma de carreiras dos policiais e professores.
Pagou as dívidas e em breve vai reduzir as alíquotas majoradas dos impostos.
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