Folha de S. Paulo
No Brasil as homenagens são esquecidas na
semana seguinte
O centenário de nascimento de José Saramago será em
16 de novembro de 2022, mas a badalação já começou. Foi escolhido o logotipo:
um S, sugerindo uma cabeça em que os zeros do número 100 funcionam como olhos
para ressaltar o “pensamento social, político e ético” do escritor Prêmio Nobel
em 1998. Mais de 400 dias de leituras, debates, conferências, seminários,
simpósios, colóquios, palestras, workshops, exposições —ufa! Sem falar nos
comes e bebes, mais bebes do que comes, como é a praxe nas confraternizações
literárias. E haverá melhor oportunidade para vender livros?
O megaevento será realizado em Portugal, claro. Mas o Brasil —onde a obra de Saramago goza de prestígio e excelente desempenho nas livrarias— deverá pegar uma boquinha.
Por aqui os centenários não duram tanto.
São tão rápidos e rasteiros que às vezes nem os notamos, ou na semana seguinte
esquecemos o nome do aplaudido. Recentemente tivemos os 100 da morte de João do
Rio e os 100 do nascimento de Zizinho.
A data redonda em que veio ao mundo Paulo
Freire foi uma exceção: análises e contextualizações até no Google. Só
por ter irritado os bolsonaristas, já valeu. Carlos Zéfiro, tão importante como
Freire na educação dos brasileiros, não recebeu todas as homenagens que seus
desenhos costumavam despertar.
Zé Kéti confirmou a regra. Na imprensa,
pequenos registros da trajetória; nas redes sociais, postagens de fotos e audições
de “A Voz do Morro” (“Eu sou o samba/ Sou natural daqui do Rio de Janeiro”).
Para os fãs relapsos, ainda dá tempo de brindar. Um show no próximo sábado (2),
no Teatro Rival do Rio, vai reunir os herdeiros não só musicais como de sangue
(filha, netos, bisneto) do compositor portelense.
Os versos de Zé Kéti têm tudo a ver com a
ética de Saramago: “Podem me prender/Podem me bater/Podem até deixar-me sem
comer/ Que eu não mudo de opinião”. Eis um bom tema para uma palestra.
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