Câmara e Senado rejeitam decisão de Jair Bolsonaro
Julia Lindner e Bruno Góes / O Globo
BRASÍLIA — O Congresso Nacional derrubou
nesta segunda-feira decisão do presidente Jair Bolsonaro que tentava impedir
que partidos se unam em uma federação partidária e atuem de maneira uniforme em
todo o país por pelo menos quatro anos.
A decisão foi tomada primeiro no Senado,
por 45 votos a 25, e endossada pela Câmara por 353 votos a 110.
Pela proposta, diferentes siglas podem
formar uma só agremiação, inclusive nos processos de escolha e registro de
candidatos para eleições majoritárias e proporcionais e no cumprimento das
cláusulas de desempenho. O ato beneficia as pequenas legendas, como PCdoB,
PSOL, PV e Rede. A matéria vai à Câmara dos Deputados.
Ao justificar o veto, Bolsonaro afirmou que
o texto vai na contramão do que se pretende para melhorar o sistema
representativo e "inaugura um novo formato com características análogas às
das coligações".
“O veto presidencial objetiva salvaguardar
o eleitor comum, vez que, como apresentada a proposição poderia afetar,
inclusive, a própria legitimidade da representação”, destacou o Planalto do
Planalto em sua justificativa.
O projeto facilita o alcance da cláusula de
barreira, criada para extinguir legendas que não tenham um desempenho mínimo a
cada eleição. O texto também permite a partidos políticos se organizarem em
federação por ao menos quatro anos, driblando esse dispositivo, criado em 2018.
Nos últimos dias, dirigentes e líderes do
Centrão, como PP, PL e DEM, passaram a atuar pela manutenção do veto às
federações. A decisão dos senadores, porém, impediu uma reviravolta.
No Senado, Esperidião Amin (PP-SC) disse
que o seu partido havia "fechado questão" pela manutenção da decisão
de Bolsonaro. Já na Câmara, o deputado Cacá Leão (PP-BA) orientou pela
derrubada do veto.
— Pactuamos que respeitaríamos a decisão do
Senado — discursou o líder do PP na Câmara.
Segundo um dos parlamentares que negociou o texto, parte de parlamentares do Centrão tinha o objetivo de barrar qualquer possibilidade de união entre PT, PSB e PCdoB nas próximas eleições.
O cenário começou a ser especulado entre
deputados de esquerda e de centro ouvidos reservadamente pelo GLOBO. O cálculo
político para barrar as federações estava na previsão de que a união seria
favorável à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Também fortaleceria a
votação dessas legendas à Câmara, com a possibilidade de conquista de mais cadeiras
em 2022.
Ainda de acordo com o um parlamentar que
negociou o texto, o presidente Jair Bolsonaro foi incentivado a vetar o projeto
justamente para se colocar contra o PCdoB, que foi a legenda que mais trabalhou
pela aprovação da proposta. Em plenário, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) chegou
a citar nominalmente a sigla:
— As federações nada mais são do que uma
tentativa de se dar uma sobrevida a Partidos como o PCdoB, o PCO, esses que
defendem regimes que já são testados e reprovados em todo o mundo, uma vez que
o comunismo não deu certo em nenhum lugar do nosso Planeta.
Durante as discussões, parlamentares
divergiram sobre a proposta justamente pela sobrevivência das siglas menores.
— Nós defendemos a derrubada do veto da
federação, porque oportuniza a dois, três partidos, inclusive partidos
históricos como o PCdoB e agora também a Rede, que se consolida, e podem
representar um programa de governo ou uma visão da sociedade que se junta em
torno de poder ter a oportunidade de eleger aqui os seus representantes. Por
isso, a questão da derrubada do veto da federação é fundamental para a gente
avançar na consolidação de partidos que realmente representem pensamentos da
sociedade brasileira — disse o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA).
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), disse que
as federações partidárias são o oposto das coligações partidárias:
— A cláusula de barreira sozinha avança,
mas não com a rapidez que nós queremos. Daí a importância das federações
partidárias, de nós estarmos unindo partidos que pensam o projeto de país de
forma igualitária, que têm o mesmo viés ideológico, e poderem estar se unindo
não só no período da eleição – isso é que é o importante –, mas para, nos
próximos quatro anos, serem liderados por um único líder, serem conduzidos na
mesma corrente ideológica, e, consequentemente, provavelmente não haverá retorno,
no futuro se fundindo — afirmou Simone, que relatou recentemente uma proposta
contra as coligações.
Na Câmara, a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) agradeceu ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por ter "cumprido a palavra" e apoiado tanto o projeto como a derrubada da decisão de Bolsonaro. A parlamentar também saudou a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, que esteve em plenário para acompanhar o desfecho da votação.
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