Mas, o que inspira este texto não tem nada
a ver com isso. É a bela reportagem publicada domingo, em um jornal de São
Paulo, intitulada “Flor de Pedra”, escrita pela jornalista Laura Matos,
numa entrevista com a suicidologista Karina Okajima Fukumitsu,
pós-doutorada na USP , a título de romper tabus.
Assim, como a problemática da discriminação étnica, sexual e social no Brasil, a descriminalização da maconha, a violência contra a mulher, o bullying nas escolas e outros temas que os pudores e as religiosidades não permitem circular de maneira ampla, a mídia, por critérios próprios dos editores, há tempos tem levantado e alimentado questões de gênero delicadas, de tal forma que terminou por fazer surgir organizações do tipo LGBT, sigla que vai se expandindo, ao incorporar na sua agenda outros tipos de tratamento dado às minorias.
Temos problemas sociais, de fato, graves,
para além daquela pauta diária gestada coniventemente entre mídia e a política,
que tira a atenção da sociedade de problemas e estereótipos que se acumulam,
sem solução, aos longo dos anos; e outros, colocados por falsos ativistas
vanguardeiros (essas novelas vulgares), como o filho in vitro, a chamada
“barriga de aluguel” e ate´o incesto, em nome dos índices de audiência, que
repercutem na sociedade, como uma agressão.
Pedagogicamente falando, gosto da
expressão “You raise me up!” (você eleva minha autoestima). Como jornalista,
sou daqueles que acredita que a mídia tem um papel pedagógico informal,
com conteúdo e validade superiores aos da própria educação formal. É quase
impossível quantificar o volume de informações cotidianas – notícias,
reportagens, análises – publicadas nos jornais, revistas e pela mídia
eletrônica – em tepo real, ou quase, que dão amparo amplo ao
conhecimento do mundo e ao debate público de questões pontuais e
delicadas, às vezes levadas para dentro do processo educacional nas escolas,
como “politicamente correto” , seja, de maneira imprópria e irresponsável, na
tentativa de vulgarizar as relações entre crianças e adolescentes,
em fase de formação da personalidade.
A reportagem da Laura coloca no cardápio de
discussão social uma questão que, no caso da, entrevistada, tem raízes
pessoais, e que, de uma maneira geral não afeta os brasileiros, “até mesmo” por
desconhecimento da solução: o suicídio, condenado pelas religiões. Embora seja
contrário ao livre debate sobre o assunto - assisti dentro da minha própria família
dois desses casos – mas, a repetição permite inferir que se trata de algo do
campo da saúde mental, e não propriamente da sociologia ou da comunicação.
Você eleva minha autoestima. Acredito que a
mídia tem uma papel pedagógico, ao colocar em pauta certos temas, por
exemplo, a difusão e a compreensão das novas tecnologias, de ideias novas no
setor produtivo, da explicação sobre males comuns que afetam a saúde dos
cidadãos. A maioria das pessoas está aprendendo, na mídia, sobre a
revolução e as atitudes do talibãs, bem como já dando materialidade à
existência de um pais, Afeganistão, que parecia só existir em aventuras
imaginárias. Outras questões, como as eleições na Alemanha, praticamente só a
mídia, com sua linguagem corriqueira, conduz à compreensão social, sobretudo
por causa dos baixos níveis internos de leitura. Os tabus e estereótipos com os
quais convive a sociedade brasileira só mesmo a mídia, fazendo provocações
pedagógicas, e não demonizadoras ou ideologizadas. Já desenvolvi hipóteses de trabalho
sobre a “Uma agenda positiva”. Embora vários chefes de Estado, sufocados
na governabilidade, tenham aventado a possibilidade de fazer dela uso,
confesso que a configuração que dei à “agenda positiva” carece de alguns
fundamentos conceituais mais consistentes para ganhar um perfil definitivo.
Parabenizo a Laura pela matéria
jornalística mas, acredito que a discussão desse tipo de solução abordado
parece mais uma questão doentia pessoal. Delicada a sua emulação nesse momento
de angústia da população com os efeitos do Covid. Não vejo como positivo
socialmente, nem pedagogicamente oportuno. Não é culpa da Laura, eu mesmo me
sentiria tentado a fazê-la. Parece mais uma desatenção – não quero crer em
oportunismo jornalístico – dos editores. O tema me parece inoportuno.
Coloca para as pessoas o dilema de morrer pela pandemia ou de tirar a própria
vida antes de por ela ser afetado. É como estar em um prédio tomado por um
incêndio, sem qualquer esperança de sair ileso. Mas, enquanto há vida, há
jeito, pondera Karina Okajima. A mídia tem a responsabilidade de reportar
e educar os vivos para a vida.
*Jornalista e professor
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