Folha de S. Paulo
O deboche da família Gargalhada contra o
relatório da CPI é só uma bravata para a galera
Flavio Bolsonaro proclamou alegremente que
seu pai, Jair Bolsonaro, deve ter reagido às acusações da CPI da Covid com
uma gargalhada.
Reproduziu a dita gargalhada para as câmeras e acrescentou: "Não tem o que
fazer diferente disso". Quis dizer que Jair "Gargalhada" não
está nem aí para as tremendas acusações —talvez porque conte com seu
engavetamento pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, escolhido por ele
à la carte para o cargo e mantido pelo cabresto sob a possibilidade de nomeá-lo
para o STF.
Durante séculos, a Justiça no Brasil enxergou-se com respeito e assim foi tratada. Nomes como Diogo Feijó, Nabuco de Araújo, Clovis Bevilacqua, Pontes de Miranda e Evandro Lins e Silva serão sempre pronunciados com reverência. Ninguém exigirá que Augusto Aras se lhes compare, mas ele ainda tem uma chance de escolher entre passar à história ao lado de Raquel Dodge ou como um Geraldo Brindeiro 2.0.
O deboche com que a família Gargalhada
trata a Justiça não tem precedente no Brasil nem se limita a ela. Seus ministros
e asseclas também riem das decisões judiciais que os atingem e as descumprem
com público descaramento, certos de que, se um deles for preso, surgirá uma
toga amiga para livrá-lo.
O deboche contra a CPI da Covid, no
entanto, é só uma bravata para a galera. Sabendo que o relatório
contém fatos e números suficientes para mandar todos os bolsonaros e
dezenas de bolsonaretes para a grade, a "rede do ódio" já saiu a
campo com as ofensas e ameaças. Em vão, porque elas não apagam o passivo das
604 mil mortes pela pandemia, a revolta dos parentes e amigos desses mortos
(ponha aí milhões de pessoas) e os outros milhões que se salvaram, mas terão de
conviver com as sequelas da doença até o fim.
Talvez isso explique os 77% de referências
negativas a Bolsonaro nas redes sociais apenas no dia da leitura do relatório
—e tal número é só o começo. Ria disso, Bolsonaro.
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