Trata-se de uma questão estratégica, pois não
terá qualquer chance o candidato da 3ª Via que queira derrotar a Lula e a
Bolsonaro sem assumir, com nitidez, o caráter democrático do combate à
corrupção e da luta para acabar com a impunidade. Esta não é uma questão
acessória: ela deve ter a sua tradução no texto do programa dos candidatos da 3ª
Via e na prática do discurso ativo e claro de campanha para denunciar e romper
com os desvios éticos cometidos por Bolsonaro e por Lula. Esta questão deve ser
uma marca inequívoca do compromisso democrático e histórico da 3ª Via.
Expressei, sinteticamente, esta opinião em post feito no grupo de Eduardo Jorge, no Facebook. Dada a forma simples e com poucas palavras com que estava redigido o texto, logo recebi da amiga Marialva Thereza Swioklo uma procedente crítica de que o texto deixaria depreender que eu estaria “indicando o ex-magistrado Moro como o candidato de sua (minha) preferência”. E prosseguia: “Sim, ele pode ser candidato, mas se os acontecimentos nos levarem à escolha de outro nome, com muito maior chance, devemos abraçar a luta para que esse candidato consiga expurgar a dupla diabólica”.
Considero pertinentes as considerações dela,
particularmente porque eu e Marialva convergimos quanto ao papel positivo da
Lava-Jato e no respeito a Moro.
Respondi-lhe, nos termos a seguir: “… já começo
pelo fim, quando você me alerta de que a 2ª parte do texto pode dar ensejo à
interpretação de que eu esteja defendendo a candidatura de Moro”. Mas é uma
interpretação errada sobre o que realmente penso. Felizmente, já me manifestei
sobre isso, por escrito, diversas vezes, em posts e comentários em minha LT no
Facebook e, também, em diferentes artigos publicados no blog Decisões
Interativas. Em todas as vezes, eu disse, sem exceção, que não considero Moro
com o perfil e a trajetória que o indiquem para ser um candidato a presidente.
Penso, mesmo, caso queira ingressar na política, que esta não é a sua melhor
porta de entrada. E que, de minha filosofia política, não estou à espera de um
salvador.
E tenho manifestado tantas vezes quanto, e
também por escrito, que o considero um cidadão íntegro e competente, que
prestou grande contribuição ao Brasil com sua participação na Operação
Lava-Jato, e que demonstrou imensa coragem e senso estratégico ao ter prendido
e condenado alguns poderosos criminosos de colarinho branco, inclusive ao
próprio Lula.
Com todas as letras, Moro, como um democrata,
não precisa pedir licença para entrar na 3ª Via, pois ele já faz parte dela, e
busca, como nós, uma alternativa ao lulopetismo e ao bolsonarismo. É, pois,
indispensável que ele esteja no palanque da 3ª Via, para fortalecê-la e para
dar a ela perspectiva de vitória. E ele pode ter este papel sem,
necessariamente, ser candidato a presidente da República.
Voltando, agora, ao início. Óbvio, seria falso
dizer, ao mesmo tempo, que não existe espaço para o antilavajatismo no palanque
da 3ª Via e, em seguida, vetar a presença de Moro neste mesmo palanque. Ninguém
acreditaria na seriedade disso! Tal palanque fake de
3ª Via seria o sonho de seus adversários; e seria uma arrogância delirante, ou
uma malandra artimanha, neste caso, com três objetivos:
1. não querer que a 3ª Via realmente ganhe, pois
seria o mesmo que dizer que a influência de Moro e os seus milhões de votos não
são necessários à vitória;
2. como tática esperta para tirar votos de
Bolsonaro e depois votar em Lula no 2º turno;
3. como tática esperta para tirar votos de Lula e
depois votar em Bolsonaro no 2º turno.
É preciso ter claro que quem decidirá se Moro
será candidato a presidente será ele mesmo, independentemente do que pense
qualquer um de nós. Se se candidatar, ou não, tudo o que podemos esperar é que
ele represente um papel importante e positivo no fortalecimento da 3ª Via e na
construção de uma unidade que garanta a ida de um de seus candidatos para o 2º
turno, ajudando a romper com o egoísmo e o personalismo que são marcas
culturais de nossa política.
Permitam-me dizer como votarei no 1º turno: no
candidato da 3ª via que tiver a maior chance de chegar ao 2º turno (como será
revelado inequivocamente pelas pesquisas de véspera). Os nomes estão postos,
não há muito o que inventar.
Escrevo este texto porque acredito que a 3ª
Via poderá ganhar. Para isso, é necessário que cada um de nós saia do seu
cercadinho e que, doravante, os seus candidatos articulem um palanque unitário
para as manifestações e lutas democráticas que se seguirão. Desta lógica,
deixemos que o PT se deslumbre com os seus próprios palanques não
unitários e “vermelhos”.
Finalmente, se não é proibido sonhar: que os
candidatos da 3ª Via pactuem convergir em
compromisso histórico-democrático para uma candidatura unitária de 1º
turno. Passos, neste sentido, já foram iniciados. Terão essa sabedoria e
grandeza? Acho que vale a pena tentar!
*Professor aposentado no Departamento de Administração da Universidade de Brasilia (UnB)
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