Folha de S. Paulo
Os veículos precisam exigir que o
TJ-SP reconheça a razão de Patrícia Campos Mello
Nesta semana o
Tribunal de Justiça de São Paulo decidirá se Jair Bolsonaro tem o
direito de ofender
sexualmente uma jornalista que desmascarou seus crimes. Caso decida a
favor do criminoso, declarará, ao mesmo tempo, guerra à imprensa e guerra às
mulheres brasileiras.
Se eu fosse Jair Bolsonaro, também odiaria
Patrícia Campos Mello.
Em primeiro lugar, porque ela é uma mulher
que fez o que os bolsonaristas gostam de mentir que teriam coragem de fazer:
ela foi à guerra. Patrícia foi enviada especial da Folha na Síria durante a
guerra civil, em uma cidade sob ataque do Estado Islâmico. Ou seja, antes de
sofrer ataques de Bolsonaro, ela já tinha visto extremistas que odeiam mulheres
tanto quanto ele.
Mas o motivo dos ataques de Bolsonaro a Campos Mello tem origem muito clara: ainda durante a campanha de 2018, a jornalista revelou ao país como funcionava o que chamou de "máquina de ódio" bolsonarista: disparos de WhatsApp financiados ilegalmente com notícias falsas sobre os outros candidatos.
Os ataques a Patrícia visavam
desqualificar a denúncia desqualificando a denunciante. Quando Bolsonaro
atacava Campos Mello, era como se dissesse a seus seguidores "ofendam essa
mulher, ofendam-na como vocês jamais ofenderiam uma mulher que vocês conhecem
pessoalmente, porque ela descobriu que meus seguidores cometeram crimes".
Os seguidores obedeceram: são bolsonaristas
por causa de situações como essa, em que a obediência lhes tira a
responsabilidade de praticar vilezas que eles não teriam coragem de fazer sem
uma ordem.
O silêncio da ministra Damares Alves diante
do ódio de Bolsonaro às jornalistas mulheres é especialmente vergonhoso. O que
ela faria se fosse vítima da mesma mentira
que Bolsonaro contou sobre Patrícia Campos Mello?
Mas não foi só sordidez: os bolsonaristas
difamam Campos Mello para manipular algoritmos em redes sociais, associando seu
nome antes às ofensas de caráter sexual do que à
denúncia da máquina do ódio bolsonarista.
Nos últimos anos, todos os ex-aliados de
Bolsonaro, de Santos Cruz a Sergio Moro, de Mandetta a João Doria, descobriram
o que a esquerda já sabia e a
reportagem de Patrícia Campos Mello mostrou em 2018: a máquina do ódio é a
essência do modo bolsonarista de fazer política.
Se tivéssemos punido os crimes que Campos
Mello denunciou em 2018, Bolsonaro teria caído cedo. Os crimes de Bolsonaro na
pandemia, que
custaram as vidas de centenas de milhares de brasileiros, não teriam
acontecido. Há muitas centenas de milhares de órfãos no Brasil porque Jair
Bolsonaro conseguiu abafar as denúncias durante a eleição. Quase todos os
brasileiros são mais pobres porque os algoritmos promovem as ofensas ao invés
da denúncia.
Por isso, nesta semana, todos os veículos
de imprensa, de esquerda ou de direita, mainstream ou alternativos, precisam
defender Patrícia Campos Mello e
exigir que o Tribunal de Justiça de São Paulo lhe reconheça a razão que
ela já tem.
Não é só questão de solidariedade humana
básica: trata-se de impedir que um governo autoritário enterre uma denúncia sob
uma avalanche de ofensas.
Nesta semana devem votar os desembargadores Silvério da Silva e Theodureto Camargo. Todos contamos que votarão a favor a favor de Patrícia, a favor das mulheres e contra o autoritarismo.
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