quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Alex Ribeiro - Até onde taxa pode cair sem pressionar a inflação?

Valor Econômico

A cada divulgação desemprego vem se aproximando cada vez mais das estimativas da chamada taxa natural, aquela que não acelera ou desacelera os indicadores de preços

Os analistas econômicos estão discutindo até onde poderá cair a taxa de desemprego sem que provoque pressões de salários e outros preços na economia, num momento em que o Banco Central aperta os juros para recolocar a inflação na meta.

Nesta quarta-feira, o IBGE divulgou estatísticas que mostram que a taxa de desemprego recuou para 9,1% no trimestre terminado em julho, ante 9,3% no trimestre encerrado em junho.

A questão é que, a cada divulgação, a taxa de desemprego vem se aproximando cada vez mais das estimativas da chamada taxa natural de desemprego, aquela que não acelera ou desacelera a inflação, também conhecida pela sigla em inglês Nairu.

Um bom indicador da visão do mercado sobre a taxa natural de desemprego são as projeções de longo prazo para a taxa de desocupação, coletadas pelo boletim Focus. Na última semana, o mercado estimava 8,8% para 2025.

O pressuposto é que, em 2025, o horizonte é distante o suficiente para os analistas estimarem a taxa de desemprego livre de fatores cíclicos de curto prazo - refletindo uma espécie de opinião do mercado sobre a Nairu.

O problema, porém, é que a visão do mercado vem mudando no último ano, em paralelo à queda do desemprego, como notou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em uma série de pronunciamentos recentes.

Em setembro do ano passado, quando o BC começou a pedir estimativas do mercado sobre a taxa de desocupação, o consenso era de que a taxa natural de desemprego estava em 11,05%. De lá para cá, porém, a desocupação caiu bem abaixo disso, mas os reajustes de salários continuaram a ser feitos abaixo da inflação.

Campos Neto notou um fato curioso: há um ano, o menor percentual citado por um analista econômico para a taxa natural de desemprego era 9,5%. Hoje, portanto, o desemprego está abaixo da visão mais otimista. No entanto, o rendimento médio real do trimestre encerrado em julho ainda é 2,9% inferior ao de período equivalente de 2021 e o mais baixo desde 2012.

 

Hoje, a visão mais otimista do mercado para a Nairu está em 7%. Uma semana antes, havia analistas afirmando que poderia ser ainda menor, em 6%. Isso levou o presidente do BC a dizer, talvez com uma dose de exagero retórico, que a Nairu pode estar em qualquer percentual entre 6% e 9%.

Os economistas do BC e do mercado financeiro estão debatendo se, de fato, essa queda na Nairu é real - e, se for mesmo, qual é a sua causa. Campos Neto e alguns economistas do setor privado se arriscam a dizer que a reforma trabalhista do governo Michel Temer permite que a economia trabalhe com uma desocupação mais baixa sem que isso cause pressões inflacionárias.

Há alguns economistas, por outro lado, que pregam cuidado para não superestimar o impacto da reforma trabalhista, devido ao alto grau de informalidade no mercado de trabalho. Também dizem que há setores do mercado que estão com pressão de mão de obra e salários, como construção civil, e que é uma questão de tempo para que ela se espalhe para o mercado de trabalho como um todo.

A discussão sobre a Nairu é central nas decisões de política monetária, por isso Campos Neto vem mencionando o assunto. Há alguns meses, o diretor de política econômica do BC, Diogo Guillen, destacou o tema em sua entrevista sobre o relatório trimestral de inflação.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na reunião de agosto, também notou que o desemprego vem surpreendendo para baixo, mas sua conclusão é que o mercado de trabalho ainda opera com capacidade ociosa - o que significa que a taxa de desocupação está acima da Nairu.

Com uma Nairu mais baixa, o BC em tese conseguiria controlar a inflação mesmo que o desemprego continue caindo. Seria necessário, tudo mais constante, um aperto monetário menor, que desacelere menos a economia e tenha um impacto mais suave no mercado de trabalho.

O Banco Central lançou, há dois anos, uma linha de pesquisa para investigar como a reforma trabalhista e a pandemia da covid-19 poderiam ter afetado o mercado de trabalho e suas consequências para a inflação. Os resultados dessas pesquisas, porém, ainda não foram publicados.

 

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