O Estado de S. Paulo
As promessas de novos gastos só pioram o trabalho do BC na gestão da taxa de juros
Assistimos no Brasil a uma corrida
eleitoral do “quem dá mais” das promessas dos presidenciáveis para os programas
sociais em 2023. Os valores prometidos só sobem, sem comprometimento com o
financiamento da nova fatura e a melhoria do foco dos programas.
Esse atual regime geral de incertezas só
piora o lado do Banco Central no ajuste do voo para o pouso da política de alta
de juros. É bem mais difícil o caminho para Roberto Campos Neto, presidente do
BC, que estará no comando da instituição em 2023, independentemente de quem
ganhar as eleições.
O projeto do Orçamento enviado ontem ao Congresso é o retrato das dificuldades desse cálculo. Foi encaminhado sem contar com todas as despesas que já estariam contratadas para 2023.
O Auxílio Brasil (ou Bolsa Família) será de
R$ 600? Terá adicional de R$ 150? A manutenção dos cortes de tributos que têm
ajudado a frear a inflação continuará prometida depois das eleições? O
bolsa-caminhoneiro, o bolsa-táxi, o vale-gás serão renovados em 2023?
Mas não é só.
O ponto principal na análise do BC para a
decisão dos juros serão as medidas que afetam o preço de combustíveis, como o
corte dos tributos federais e do ICMS cobrado pelos Estados. E sobre isso não
se sabe ao certo o que vai acontecer. A queda do ICMS, por exemplo, está
judicializada no Supremo.
Campos Neto disse há poucos dias que não dá
para “baixar a guarda” em relação aos juros no Brasil. Na linguagem dos BCS,
trata-se de manter a vigilância.
Com tantas incertezas, o BC acaba tendo de
ser mais conservador à medida que as notícias de gastança vão saindo. Tudo isso
tem um custo, que é incorporado ao preço presente e faz com que a melhora
prevista no futuro seja menor, ainda que num cenário de alívio para a inflação.
É o caso da inflação mais baixa em 2022 que
gera uma inércia melhor para 2023. Com a queda dos tributos, havia muita dúvida
do que seria repassado aos preços. O resultado tem sido melhor do que se
esperava. Os repasses estão mais fortes, inclusive com as empresas de
telecomunicação.
A desaceleração global vindo forte também
ajuda a reduzir os preços por aqui, e os dados de crédito em tempo real dos
bancos mostram desaceleração na ponta.
Não é hora de celebrar. Há componentes da
inflação que merecem bastante atenção. É o caso da inflação de serviços. E há,
sobretudo, uma incógnita com relação ao comportamento dos salários num cenário
de geração de empregos mais forte. Ontem, o IBGE anunciou que a taxa de
desemprego no Brasil voltou a cair para 9,1%, o menor patamar desde dezembro de
2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário