O Estado de S. Paulo
Próximo governo já tem desafios no campo socioeconômico para resolver
“Qualquer que seja o resultado da eleição,
o novo governo terá de enfrentar rapidamente dois grandes desafios no campo
econômico:
- Como reorganizar o Orçamento de 2023
depois da farra fiscal eleitoral? Sem essa resposta, o câmbio não se
estabilizará e será muito mais difícil reduzir a inflação e os juros.
- Como construir uma regra fiscal crível e
uma agenda de ações que possibilitem a volta de um crescimento sustentado.”
Foi assim que meu artigo publicado no dia da eleição descrevia os desafios da nova equipe. Mostrando a dificuldade dessas questões, tivemos já nesta semana muita confusão a propósito do Orçamento de 2023.
Isso porque os representantes políticos do
novo presidente anunciaram, após várias conversas no Congresso, que o Bolsa
Família poderia ficar fora do teto por quatro anos, liberando recursos
para outras despesas e implicando significativos déficits. Nessas condições,
antes mesmo da visão geral do Orçamento e da nomeação do novo ministro,
elevações robustas de gastos já seriam sancionadas, colocando sérias dúvidas
sobre o compromisso de responsabilidade do novo governo.
Não bastasse isso, o discurso do novo
presidente na quinta-feira incendiou as expectativas. Uma fala de palanque que
trouxe de volta a divisão do mundo de “nós contra eles”: de um lado, os bons
que se preocupam com o social; de outro, os fiscalistas insensíveis. Ignorou
que o País precisa, mesmo, é de tranquilidade, realismo e bom senso.
Além disso, é inacreditável que Lula ainda
não tenha entendido que contas públicas equilibradas são a porta para o
crescimento sustentado.
Igualmente inacreditável é que esqueça que
o crescimento imprudente de gastos acaba por pressionar a inflação. Até agora,
a inflação só caiu com reduções de tributos sobre energia, enquanto outras
categorias de preços, como alimentação, seguem perigosamente próximas de 10%.
Quem perde mais são os mais pobres, como já deveriam saber aqueles que se dizem
preocupados com o social.
Finalmente, vale dizer que não é apenas a
Faria Lima que se preocupa com a incerteza, a inflação e o crescimento – uma
versão muito conveniente do “nós contra eles”. É todo o sistema produtivo,
exceto a minoria dos empresários que aprenderam a viver das benesses do Tesouro
Nacional.
A eleição de Lula só ocorreu porque parte
da sociedade, preocupada com os riscos à democracia, aderiu à sua candidatura,
dando-lhe uma característica de coalizão ampla. Foi o que ele próprio
reconheceu quando o resultado das urnas foi confirmado. Trazer de volta os
“conceitos” e a sombra do governo Dilma é flertar com o desastre.
*Economista e sócio da MB Associados
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