Folha de S. Paulo
Ação política dos militares levou golpistas
para portas dos quartéis
Dias depois da derrota na eleição, Jair
Bolsonaro se dirigiu a seus apoiadores, defendeu
o direito de manifestações golpistas e se queixou de excessos
atribuídos a outras autoridades. Dias depois da derrota na eleição, os
comandantes militares se dirigiram a seus apoiadores, defenderam o direito de
manifestações golpistas e se queixaram de excessos atribuídos a outras
autoridades.
Nunca foi necessário distinguir a ação política de Bolsonaro daquela praticada pela cúpula das Forças Armadas nos últimos anos. Seja por respeito ao princípio da hierarquia, por convergência doutrinária ou simplesmente pela identificação de interesses comuns, todos falaram a mesma língua nesse tempo.
Ainda que esses militares tenham caprichado
no latim ou eventualmente feito cálculos que recomendassem alguma discrição,
nenhum deles achou prudente se manter dentro dos quartéis. A nota
assinada pelos chefes fardados na sexta (11) é apenas mais um
manifesto político das Forças neste ciclo bolsonarista.
Os comandantes resolveram divulgar um texto
sobre as "manifestações populares que vêm ocorrendo em inúmeros locais do
país". Em vez de mandar para casa os brasileiros que se recusam a aceitar
o resultado da eleição, as Forças Armadas preferiram reconhecer a insatisfação
dos golpistas e sugerir que eles procurem o Congresso para "corrigir
possíveis arbitrariedades".
Integrantes do comando militar espalharam
que a ideia era mandar um recado ao Judiciário sobre decisões recentes do STF e
lançar um alerta sobre as tensões pós-eleitorais. Outro objetivo parece ter
sido dar alguma satisfação ao público golpista que espera uma ação
para impedir a posse do presidente eleito.
Esses grupos não foram às portas dos
quartéis por acaso. A própria conduta dos comandantes fez com que bolsonaristas
enxergassem uma instituição disposta a fazer política com as armas que tem. A
decisão de responder com uma nota pública, além de ser uma anomalia, é a
reafirmação desse comportamento.
Um comentário:
Bruno Boghossian.
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