sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Ruy Castro - O segredo da volta por cima

Folha de S. Paulo

Como Bolsonaro passou de persona non grata nos quartéis ao poder de acoelhar generais

"Entre o Exército e o militarismo, vai um despenhadeiro. O militarismo é a canceração do Exército. Está para o Exército como o clericalismo para a religião, o demagogismo para o governo popular, o egoísmo para o eu. O militarismo pode trazer vantagens a militares esquecidos do voto profissional. Mas, para o Exército, é o descrédito, a ruína, o ódio público. Ora, a política no Exército leva fatalmente ao militarismo. Entre o Exército e a política se deve, portanto, levantar a mais alta muralha."

Quem disse isso? Um solerte esquerdista? Não —Rui Barbosa, em 21 de junho de 1893, no Jornal do Brasil. Se vivesse em nosso tempo, o baiano ficaria estarrecido ao ver como o Exército brasileiro entregou-se a um presidente que militarizou a política e politizou as Forças Armadas a grau jamais concebido. E, mais incrível, como esse presidente foi um elemento que, entre o final dos anos 1980 e o início dos 1990, era persona non gratissima na corporação —militar expulso por terrorismo e, já como político, proibido por ela de entrar nos quartéis.

O longo caminho de Jair Bolsonaro para reverter tamanho opróbrio e tornar-se chefe supremo dessas mesmas Forças Armadas, com poder para acoelhar generais, tratá-los como recrutas e insuflá-los ao golpismo, está no livro "Poder Camuflado", de Fabio Victor, de que falei aqui na quinta-feira (8). Os detalhes de como isso se deu não cabem neste espaço. É ler para crer como um sujeito aparentemente tão tosco pôs a seus pés homens que se pretendem estudiosos, responsáveis e justos.

Talvez Bolsonaro não fosse tão tosco. Talvez tenha aprendido a ler a cabeça dos militares que, no passado, estabanadamente desafiara. Talvez os tenha convencido de que, no poder, botaria em prática as ideias deles. Talvez por isso os militares passassem a ver nele o messias cuja volta esperavam.

Não tem como errar. Todas as opções acima estão corretas.

5 comentários:

Anônimo disse...

acoelhar
Mostrar(-se) amedrontado; amedrontar, acovardar, intimidar

Isso é o q o genocida fez com nossas forças armadas. Foi fácil, barato, rápido. Bastou um mau soldado do exército.
Imaginem esse pessoal diante de um inimigo armado.

Fernando Carvalho disse...

O anônimo acima está enganado a movimentação golpista do boçal custou caro ao povo brasileiro. Essa história de pensão de marechal para oficiais das forças armadas, ainda está para ser desvendada (aquela história de sigilo de cem anos). Até o coronel torturador ganhou 30 mil reais de pensão vitalícia (suas duas filhas recebem esse dinheiro). Mais dinheiro para caminhoneiros cuja missão é parar o país fechando rodovias. O boçal colocou 8 mil milicos no governo. Transformou o Palácio do Planalto num quartel. General bolsonarista não é um coelho é um pusilânime. O boçal queria transformar o povo brasileiro numa coelhada. Não confundir com coalhada.

ADEMAR AMANCIO disse...

Só por Deus.

Anônimo disse...

O colunista e os comentaristas acima falam sobre a influência de Bolsonaro nos quartéis e nas Forças Armadas, mas esquecem que o GENOCIDA teve amplo apoio e foi eleito pelos civis, e que, mesmo derrotado recentemente, ainda teve 49% de apoio dos civis. Com o mandato delegado pelo "povo" ao ex-capitão, a capacidade de resistência dos militares ao comandante-em-chefe eleito democraticamente era muito limitada!

Fernando Carvalho disse...

A capacidade de resistência dos milicos ao boçal depende apenas da hombridade ou pusilanimidade de cada militar. Hombridade revelou o comandante da aeronáutica que se recusou a dar rasantes de jato supersônico para quebrar as vidraças do STF. E pusilanimidade revelaram os generais da ativa e da reserva que ajudaram o boçal no seu projeto de corroer a democracia brasileira.