Folha de S. Paulo
Se benefícios criarem chance de reeleição,
políticos vão querer remuneração generosa
O Congresso entregou a Jair Bolsonaro um
segundo tanque de oxigênio. Depois da ajuda para mexer no preço dos
combustíveis, aliados do governo deram ao presidente acesso livre aos cofres
públicos para pagar um
pacote de benefícios sociais durante a campanha eleitoral. O
presente aumenta ainda mais a dívida do Planalto com o centrão.
Sete de cada dez deputados votaram a favor de afrouxar regras eleitorais para ajudar Bolsonaro. O governo só conseguiu o placar confortável graças a uma operação coordenada pelos chefes do centrão, com bilhões de reais despejados em redutos políticos dos parlamentares.
O controle sobre a verba das emendas de
relator deu ao presidente da Câmara, Arthur Lira, e ao ministro Ciro Nogueira
(Casa Civil) uma influência sem precedentes sobre votações no Congresso. Lira
ainda completou a
jogada com manobras para garantir uma supermaioria e evitar que
a votação fosse adiada.
O centrão investe na reeleição porque
acredita que um segundo mandato de Bolsonaro garantiria ao bloco uma
remuneração generosa. Quando fecharam a aliança com o presidente, esses
políticos venderam o diagnóstico de que o governo estava paralisado e que só um
grupo de profissionais seria capaz de criar alguma
chance de vitória nas urnas.
Se o pacote de bondades e outras medidas
levarem a uma recuperação que mantenha Bolsonaro no Planalto, a cobrança do
centrão virá à altura. Além de mandar no Orçamento e no coração político do
governo, o bloco deve abocanhar uma fatia maior de ministérios e ter mais voz
na agenda econômica.
Não à toa, Paulo Guedes passou a falar o
idioma do centrão. O ministro era contra driblar regras do controle de gastos
para pagar benefícios eleitoreiros e chamava o projeto de PEC Kamikaze. Agora,
ele diz que o texto deve
ser conhecido como "PEC virtuosa das bondades".
Uma vitória de Lula frustraria os planos dos líderes do centrão. Mas a maioria deles sabe como obter um bom retorno em tempos adversos.
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