Folha de S. Paulo
Autor defende que narrativas se tornem
parte da ciência econômica
"Narrative Economics" (economia
narrativa; há uma edição lusitana), de Robert Shiller, não é exatamente um
livro novo (é de 2020), mas ele me foi recomendado há pouco por Maria Hermínia
Tavares, que escreve na Folha às quartas-feiras. E, quando a Maria
Hermínia diz que devo ler algo, eu obedeço. Não me arrependi. O livro é
interessantíssimo.
O autor, um dos papas da economia comportamental, Nobel de 2013, começa se queixando do pouco espaço que seus colegas dão às narrativas. Não o fazem por julgá-las irrelevantes. Até o mais tradicionalista dos economistas reconhece fenômenos como corridas bancárias e outros comportamentos de manada, indissociáveis das histórias que são contadas numa sociedade.
Mas, como sempre ocorre em ciências, os
elementos que levamos para as teorias são ao menos em parte determinados pela
nossa capacidade de medi-los. E, até o surgimento dos grandes bancos de dados
de textos, a partir da virada do milênio, era impossível estimar de forma
razoavelmente objetiva a prevalência de uma narrativa.
A proposta de Shiller, que transforma o
livro numa espécie de manifesto, é que levemos as narrativas para o
"mainstream" da ciência econômica. O modelo a que ele recorre é o da
epidemiologia. Histórias podem tornar-se virais, contaminando a economia e
afetando as vidas das pessoas.
Obviamente, há uma série de dificuldades
(algumas talvez insuperáveis) antes que histórias passem a integrar modelos
econométricos, mas o autor acha que precisamos tentar avançar. Perde-se muito
quando simplesmente ignoramos aquilo que sabemos ter pelo menos algum efeito.
Escritor de mão cheia, Shiller nos dá um gostinho do que seria essa nova ciência. Ele mostra, entre várias outras histórias, como narrativas que valorizavam a frugalidade e a temperança ajudaram disseminar os blue jeans e, mais significativamente, podem ter contribuído para prolongar a Grande Depressão dos anos 30.
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