quarta-feira, 24 de maio de 2023

Marina diz que decisão do Ibama contra exploração de petróleo no Amazonas será cumprida

Ministra do Meio Ambiente afirma que governo rejeitará pedido da Petrobras

Por Renan Truffi, Fabio Murakawa e Rafael Bitencourt / Valor Econômico

Brasília - Em sua primeira manifestação sobre o tema, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, saiu em defesa do Ibama e disse na terça-feira (23) que o governo federal vai “cumprir a lei” e respeitará a decisão do órgão de rejeitar pedido da Petrobras para iniciar perfuração em área próxima da foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial.

A declaração da ministra vai na contramão dos interesses da estatal de petróleo e dos pedidos da bancada do Amapá no Congresso, estado que poderia ser beneficiado com uma eventual exploração petrolífera na região.

Marina falou sobre o assunto à imprensa após reunião sobre o tema na Casa Civil, capitaneada pelo ministro Rui Costa, e que envolveu também o ministro de Minas e Energia (MME), Alexandre Silveira (PSD), e os presidentes da PetrobrasJean Paul Prates, e do Ibama, Rodrigo Agostinho. Ela foi a única a se pronunciar sobre o tema depois do encontro. Não houve qualquer contraponto oficial da Casa Civil, MME ou Petrobras às declarações da ministra. Rui Costa, no entanto, se reuniu com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada, no fim da tarde, para tratar do mesmo tema.

“É uma decisão técnica e, num governo republicano, isso é respeitado”, ponderou a ministra do Meio Ambiente. “Se uma licença é negada [pelo Ibama], ela está negada”, enfatizou em seguida. Segundo a ministra, a Petrobras poderá reapresentar estudo para uma nova análise do órgão ambiental, mas ela não quis explicar se isso também ficou decidiu no encontro. “O que a Petrobras vai fazer é uma decisão deles”, emendou. A ministra explicou, entretanto, que, se a empresa petrolífera resolver apresentar um novo pedido de licença, a análise por parte do Ibama “começará do zero”.

Além disso, Marina Silva lembrou que a decisão do Ibama foi baseada em posição unânime de dez técnicos da instituição. A fala dela foi acompanhada de perto pelo presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, que, antes mesmo da reunião começar, já havia descartado qualquer composição política e rechaçado “negociação” sobre o assunto.

“Eu emito três mil licenças por ano, não tenho como ficar em cada licença chamando todas as partes, buscando uma composição, porque não cabe composição [política] em decisões que são técnicas. Muitas vezes a gente vai tomar decisões que vão agradar um grupo de pessoas, desagradar outro grupo de pessoas. […] É do jogo, faz parte do sistema de licenciamento ambiental”, defendeu ele.

O chefe do Ibama ainda acrescentou que a Petrobras já fez diversas perfurações na área da foz do Rio Amazonas e nenhuma se mostrou viável para exploração de petróleo. “Ao longo da história foram perfurados mais de 100 poços na região e esses poços ao longo da história não demonstraram viabilidade. Não cabe negociação nesse momento, mas nada impede que a Petrobras possa reapresentar o pedido. O Ibama sempre usa a ciência como ponto para nortear suas decisões”, argumentou.

O único ministro palaciano que ofereceu outra visão sobre o imbróglio foi Alexandre Padilha (PT), da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República. Ele não participou do encontro convocado pela Casa Civil, mas disse ainda ser preciso “ver o resultado final” da reunião no Planalto.

“Vamos ver o resultado dessa reunião. Acho que a discussão continua e o Congresso Nacional e a sociedade podem contribuir para esse debate”, afirmou, referindo-se a um grupo temático que será criado no Conselhão, comandado por ele, para tratar de sustentabilidade e desenvolvimento econômico. “Certamente, o presidente [Lula] vai primeiro ouvir o resultado dessa reunião. É possível que tenha outros momentos com outros ministros”, acrescentou.

Responsável pela articulação política, Padilha ponderou também que a gestão petista precisa ouvir “as pessoas” do Amapá, em referência aos parlamentares do Estado. “É muito importante a gente ouvir pessoas dos Estados, como o Amapá, que tem um impacto importante sobre essa realidade, ouvir os territórios, ouvir as realidades locais”, defendeu.

Apesar das declarações oficiais da ministra do Meio Ambiente, a bancada do Amapá segue em compasso de espera. O Valor apurou que os congressistas da região aguardam uma posição do próprio presidente Lula. O grupo já deu a entender que irá usar “todas as forças” para reverter o entendimento do Ibama.

Interlocutores do Palácio acreditam, porém, que o caminho natural será mesmo a apresentação de um novo plano, mais bem estruturado, por parte da Petrobras. Isso possibilitará ao Ibama tomar uma decisão diferente. Por outro lado, tende a atrasar os estudos na região do Amazonas.

Nenhum comentário: