O Estado de S. Paulo
As confusões dentro de um governo em disputa são o reflexo da ausência de coordenação
Era 1959 quando Billy Blanco compôs a
música Piston de Gafieira. É aquela que retrata o que acontece quando o clima
esquenta no salão: “A porta fecha enquanto dura o vai não vai, quem está fora
não entra, quem está dentro não sai”. Nada mais parecido com o governo do
petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Das confusões do ministro Juscelino Filho,
passando pela titular do Turismo e pelas brigas entre as pastas de Minas e
Energia e do Meio Ambiente e, agora, entre o Itamaraty e os militares, tudo
parece lembrar o samba gravado por Silvio Caldas e Moreira da Silva. E qual o
papel de
Lula, o presidente, nessa história? Na hora da confusão, o samba dizia que a orquestra na gafieira sempre tomava a mesma providência: tocava alto para a polícia “não manjar”. E concluía: “E nessa altura, como parte da rotina, o ‘piston’ tira a surdina e põe as coisas no lugar”.
Pela história do PT, Lula devia ser o
“piston de gafieira” do governo. Em vez disso, passou cinco meses assistindo –
quando não participava – ao vai não vai. Uma hora a briga era pelos juros,
noutra por causa da Ucrânia e, por fim, até com quem o ajudou em sua eleição
para se ver livre de Jair Bolsonaro. Pior. Quando devia tocar o trompete e
mediar a briga entre o seu partido e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o
presidente deixou a confusão rolar no governo até a oposição “manjar”.
As intrigas palacianas, os ciúmes e os egos
terríveis vão desgastando ministros e secretários como Ariel de Castro Alves
(Direitos da Criança e Adolescente), defenestrado após a primeira-dama Janja da
Silva ter marcado um reunião com ele sem avisar seu chefe, o ministro Silvio
Almeida (Direitos Humanos). O titular da pasta não aceitava dividir os holofotes
com Ariel. E ficou ainda mais contrariado porque teve de se deslocar até o
gabinete do subordinado para se encontrar com Janja...
Foi ainda preciso que a disputa entre
Marina Silva (Meio Ambiente) e Alexandre Silveira (Minas e Energia) ficasse
exposta, sem falar nas consequências no Senado (Alcolumbre e Randolfe que o
digam), para que Lula resolvesse ameaçar a tocar o trompete para defender a
Petrobras. Mas, quando se tratava de vender blindados Guaranis como ambulância
à Ucrânia, o presidente escutou as queixas do Itamaraty. Dará também ouvidos à
base industrial da defesa? Qual a política do governo afinal?
No Congresso, petistas se somam a
bolsonaristas para emparedar os comandantes das três Forças e o ministro da
Defesa, José Múcio. Enquanto isso, Arthur Lira já prepara a campanha de 2026.
Nela, talvez, não exista mais Bolsonaro para garantir uns 2 milhões de votos a
mais ao PT. E, nessa altura, com o desgaste da rotina, nem o trompete vai pôr
as coisas no lugar.
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