O Estado de S. Paulo
Lula entre EUA e China, Chile e Cuba, Uruguai e Venezuela, mulheres e Centrão; o ‘déficit zero’ evapora
No sobe-e-desce do início do terceiro
governo, o presidente Lula está mais uma vez em baixa. Voltou a alimentar
polêmicas na política externa, demitiu a segunda ministra, deu posse
envergonhada aos novos ministros do Centrão e não foi uma boa ideia usar
relógios que seriam da União. E como andam as votações no Congresso? E o
“déficit zero” em 2024, foi um sonho de verão?
Em novo giro internacional, Lula tem quatro focos: a complexa relação com Cuba, equilibrarse para o Brasil não virar massa de manobra da China, exibir um contraste vigoroso entre ele e Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU e priorizar convergências e amenizar crescentes divergências com os EUA, como na guerra da Ucrânia. Sem improvisos, por favor!
Segunda maior economia do mundo, a China se
move para transformar seu poder econômico em liderança política e, na disputa
com os EUA, usa os Brics, agora ampliados, e o G77 + China, que reúne 134
países “em desenvolvimento”. O Brasil é relevante em ambos e Lula já deu um,
dois, três... sinais de aproximação com China (além de Rússia) e relutância com
EUA (além de Europa). Preocupante.
Lula já chegou em Havana, para a reunião do
G77 + China, condenando o embargo liderado pelos EUA contra a Ilha. É uma velha
posição do Brasil, rompida por Bolsonaro, mas Lula tem outros alvos: justificar
a condescendência com Cuba, que deve, não nega, mas não tem como pagar mais de
R$ 2,5 bilhões ao Brasil. Culpa do embargo? É preciso saber se isso é
suficiente para abafar a gritaria bolsonarista, evitar novas críticas de
Uruguai e Chile e explicar ao distinto público brasileiro o uso de dinheiro
público para as ligações amorosas de Lula com Cuba e Venezuela.
Em Nova York, Lula não terá de comer pizza
em pé no meio da rua e vai repor o Brasil nas boas teses de sustentabilidade,
paz, democracia, justiça social e combate à fome. Temas também para a conversa
de quartafeira com Joe Biden, centrada num plano global para empregos. Se Lula
vai apostar no contraste com Bolsonaro, a foto da posse vai amarelando. Na de
Bolsonaro só homens brancos. Na de Lula, mulheres, uma indígena, negros. E
agora? Depois das ministras de Esportes e Turismo, quantas vão sucumbir na
guerra com o Centrão, que entra no governo a portas fechadas?
Fernando Haddad anda sumido, com o déficit
zero parecendo só um golpe de marketing. A revelação do Estadão de que Lula não
devolveu (justamente) relógios da Presidência enfraquece a munição contra
Bolsonaro. E os advogados dos três primeiros condenados no STF pela tentativa
de golpe confirmam: os bolsonaristas estão quietos, mas organizados e à
espreita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário