"A concepção da história
como história ético-política seria assim uma futilidade? E preciso deixar claro
que o pensamento historiográfico de Croce, mesmo em sua fase mais recente, deve
ser estudado e meditado com atenção. Ele representa essencialmente uma reação
ao “economicismo” e ao mecanicismo fatalista, embora se apresente como
superação da filosofia da práxis. Também para Croce vale o critério de que seu
pensamento deve ser criticado e avaliado não pelo que pretende ser, mas pelo
que é realmente e que se manifesta nas obras históricas concretas. Para a
filosofia da práxis, o próprio método especulativo não é futilidade, mas foi
fecundo de valores “instrumentais” do pensamento, que a filosofia da práxis
incorporou (a dialética, p. ex.). Portanto, o pensamento de Croce deve ser
apreciado como valor instrumental e, assim, pode-se dizer que ele atraiu
energicamente a atenção para o estudo dos fatos de cultura e de pensamento como
elementos de domínio político, para a função dos grandes intelectuais na vida
dos Estados, para o momento da hegemonia e do consenso como forma necessária do
bloco histórico concreto. A história ético-política, portanto, é um dos cânones
de interpretação histórica que se deve sempre ter presente no exame e no
aprofundamento do desenvolvimento histórico, se é que se quer fazer história
integral e não histórias parciais ou extrínsecas.”
*Antonio Gramsci
(1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.1. p.283. 4ª edição, Civilização
Brasileira, 2006.
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