Folha de S. Paulo
Conexões políticas e agitação golpista nos
clubes militares são fatores de contaminação cruzada
O principal fator
de instabilidade representado pelos militares nos últimos anos estava
dentro dos quartéis e nas reuniões de cúpula. Se existiu alguma dúvida sobre a
ameaça de adesão a uma aventura golpista, esse risco vinha de comandos e tropas
da ativa, que tinham armas nas mãos.
Gente interessada em passar a questão a limpo sabe que os laços desse problema são mais abrangentes. As conexões políticas da caserna, a doutrina que alimentava delírios de ruptura e o envolvimento direto em episódios de agitação golpista têm uma marca profunda de círculos influentes da reserva.
O assunto está nos radares do ministro da
Defesa. Nos primeiros meses do governo, José
Múcio fez um giro por quartéis na tentativa de pacificar relações e
reduzir a contaminação da ativa. Agora, ele planeja incluir em suas viagens
encontros com coronéis e generais da reserva nos clubes militares dos estados.
As confrarias da reserva costumam ser
veículos das manifestações que militares da ativa, por força das regras, não
podem fazer. São capazes de declarar apoio a candidatos em tempos de eleição,
defender efusivamente e rotineiramente uma ditadura e fazer
alarde sobre uma continuada ameaça comunista.
Generais e coronéis da reserva deram respaldo
técnico, ideológico e simbólico a Jair
Bolsonaro em 2018. Depois, exerceram cargos de destaque em Brasília e
alimentaram com frequência os desejos autoritários presentes no núcleo do
governo.
Personagens como Augusto Heleno e Braga
Netto ofereceram suas patentes para a intimidação institucional. Outros
militares da reserva participaram
da teia de golpismo que se formou após a eleição e se envolveram na
agitação dos acampamentos em frente aos quartéis.
A contaminação cruzada é inevitável.
Militares da reserva costumam preservar vínculos com o pessoal da ativa, e os
mais graduados exercem influência inclusive sobre os atuais comandantes. Nenhum
governo consegue mudar esse quadro com um bate-papo na hora do chá da tarde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário