quinta-feira, 2 de maio de 2024

César Felício - Tom de palanque cruza limites da sensatez

Valor Econômico

Pedido de votos do presidente a Boulos foi fora de hora e de lugar

Em 7 de setembro de 2022, data do bicentenário, o então presidente Jair Bolsonaro usou a estrutura do Estado para fazer um verdadeiro comício na praia de Copacabana, em plena campanha eleitoral na qual concorria. Não é fácil esquecer o presidente, no palanque, proclamando-se “imbrochável” naquele dia. Pelo ato, Bolsonaro e seu vice na chapa, o general Walter Braga Netto, tornaram-se inelegíveis por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Por ter sido a segunda inelegibilidade de Bolsonaro - ele já havia se tornado inelegível pela reunião com embaixadores para divulgar notícias falsas sobre o sistema eleitoral, dois meses antes - a condenação por campanha irregular em Copacabana tornou-se menos visível. Vale a pena relembrar o episódio, contudo, para demarcar a zona de perigo em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou nesse 1º de Maio o seu preferido para a eleição municipal desse ano em São Paulo, o deputado Guilherme Boulos (Psol-SP).

Há uma similitude entre aquele 7 de setembro e esse 1º de maio, que é a mistura de estação entre ato com presidente da República e processo eleitoral. É óbvio que Lula estava no estacionamento da Neo Química Arena como presidente da República. Tanto que no dia 26 a Presidência da República enviou para a imprensa o aviso de pauta e a abertura de credenciamento oficial para a cerimônia. A lei claramente veta o pedido de voto nessas circunstâncias.

Há mais um agravante: Boulos nem candidato é ainda. Só o será em julho, na época das convenções partidárias. Até lá, o que existe é a zona cinzenta da pré-campanha. A Justiça Eleitoral costuma fechar os olhos à movimentação dos “pré-candidatos”, para não engessar por completo o processo. Não fosse assim não sobrava ninguém: o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e os deputados Tabata Amaral (PSB-SP) e Kim Kataguiri (União Brasil-SP) estão promovendo atos o tempo todo para aumentar a visibilidade deles.

Há um limite, contudo, dificilmente definível além da questão do bom senso. Lula surgir no vídeo, em um palanque, no canal oficial do governo, e afirmar, levantando a mão de Boulos, que cada eleitor seu tem que votar no deputado do Psol cruza todos os limites da sensatez.

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