quinta-feira, 2 de maio de 2024

Bruno Boghossian - Três recados de Lula no 1º Maio

Folha de S. Paulo

Presidente tenta contornar retorno político modesto na classe média e entre trabalhadores

Lula não escondeu o incômodo diante da plateia do 1º de Maio em São Paulo. O presidente reproduziu uma bronca dada em sua equipe pela falta de esforço para levar ao ato "a quantidade de gente que era preciso levar". Ainda assim, tentou sair por cima: "Eu estou acostumado a falar com mil, com 1 milhão, mas também, se for necessário, eu falo com uma senhora maravilhosa que está ali na minha frente".

O evento foi organizado por centrais sindicais. O petista sabe que a capacidade de mobilização dessas organizações foi drenada pelo fim do imposto obrigatório. O que inquieta Lula de verdade é o retorno político modesto que o governo tem conseguido colher dentro de um público estratégico.

Em seus primeiros mandatos, o petista conjugou benefícios sociais para a população mais pobre com medidas que favoreciam de forma abrangente uma classe trabalhadora que ocupava um degrau acima na pirâmide de renda. Agora, o governo tem captado certa antipatia no segundo grupo.

Antes de transformar o ato numa flagrante propaganda eleitoral antecipada a favor de Guilherme Boulos, Lula usou o discurso do Dia do Trabalhador para enviar três recados a uma fatia-chave da ampla classe média nacional. O primeiro e mais evidente foi a sanção da lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. Ali, o presidente repetiu a promessa de campanha de livrar da tributação quem tem salário de até R$ 5.000 por mês.

O petista aproveitou para citar explicitamente a "classe média" como potencial beneficiária da desoneração da cesta básica prevista na reforma tributária. Ainda que a medida atinja em cheio a população de baixa renda, Lula sabe que o mau humor com o preço da comida se espalha por outros segmentos.

O presidente também decidiu enfrentar um tema que é uma pedra no sapato das relações do governo com o mundo do trabalho. Disse que o projeto do governo para regulamentar o trabalho por aplicativos não prejudica essa atividade ("A gente não mexe com o direito de ser autônomo") e abriu os cofres para aqueles que atuam como empreendedores ("Quem quiser trabalhar por conta vai ter apoio do governo e crédito a juros baratos").