O Estado de S. Paulo
Já não vemos grandes concentrações de
trabalhadores no Dia do Trabalho, dando a aparência de que tudo está resolvido
Existem datas que não caducam nem se
antecipam e, além de tudo, são universais. Uma delas é o Natal, aquele 25 de
dezembro que (pelo menos no mundo ocidental) celebra o nascimento do Menino
Jesus. Outra, também imprescritível, é o 1.º de Maio, Dia do Trabalho,
festejado na quarta-feira passada.
Não se trata de um feriado qualquer. Chamado
em alguns países de Dia do Trabalhador, nasceu para comemorar a greve operária
de 1886 em Chicago, nos Estados Unidos. Aos olhos de hoje, a exigência dos
grevistas era simples: redução da jornada de trabalho para oito horas (que, até
então, ia de 12 horas a 16 horas diárias), além da supressão do trabalho
infantil e, também, buscando melhor ambiente de trabalho.
Entre nós, no Brasil, o “Dia do Trabalhador” teve seus primórdios em 1917, aqui na cidade de São Paulo, com a greve geral reivindicando a redução da jornada de trabalho para oito horas, ao contrário das 12 horas adotadas como regra naquela época. Houve repressão, sem tiros e com cavalaria nas ruas, mas as fábricas e comércios fecharam.
Anos depois, em 1924, o então presidente da
República, Artur Bernardes, instituiu oficialmente a data de 1.º de maio como
Dia do Trabalho. Durante quase todo o seu mandato, Bernardes governou sob
“estado de sítio” com plenos poderes para mandar, desmandar e ser obedecido.
Mesmo dessa forma, aparece na História como o presidente que instituiu a data
que possibilitou o surgimento do assim chamado “movimento operário” e, ao mesmo
tempo, dos sindicatos.
A celebração da data no Brasil, porém,
começou de fato a partir de 1930 e foi crescendo até os dias atuais. Só foi
interrompida durante os anos da ditadura militar imposta em 1964. Somente a
partir da abertura iniciada no governo do general Ernesto Geisel e continuada
com o general João Figueiredo a celebração foi restabelecida pouco a pouco.
Chegamos, assim, aos dias atuais, em que – mais do que tudo – a data
transformou-se, na maioria dos setores, quase que apenas num feriado a mais em
que não se comparece ao serviço. Somente um pequeno grupo de trabalhadores em
áreas essenciais, como hospitais, redes elétricas ou meios de comunicação (tal
qual jornais, rádio e televisão), exerce sua atividade de forma normal naquele
dia.
A instituição do Dia do Trabalhador
originou-se nos Estados Unidos para rememorar a greve geral de Chicago em 1886,
como já escrevi. Mas lá é data móvel (como aqui o é a Páscoa), festejada na
primeira segunda-feira de setembro. Também no Canadá é assim. O espírito e a
intenção, porém, são idênticos ao nosso 1.º de Maio: festejar quem trabalha,
seja no campo ou nas cidades.
A data se estabeleceu em 1889 numa decisão da
Segunda Internacional Socialista, que reuniu partidos socialistas europeus e
sindicatos que se opunham ao caráter radical do movimento operário que, poucas
décadas após, se transformou nos partidos comunistas. Os Estados Unidos, porém,
estiveram sempre à frente do chamado movimento operário e, em realidade, o
lideraram ao longo do início do século 20.
Em 1910, o New York Times (já o maior e mais
prestigiado jornal daquele país), ao referir-se à greve geral de Chicago,
escrevia que, “entre todos os dias festivos do ano, não há nenhum que se
destaque tanto para o avanço social das pessoas comuns como essa data”. Mesmo
assim, levou quase meio século para que, em 1938, os Estados Unidos
estabelecessem em lei o salário mínimo e proibissem o trabalho infantil.
Existem, porém, outras datas a não esquecer e
que por suas características jamais devem ser renovadas. Aqui, a mais recente
delas é o 8 de janeiro de 2023, quando grupos de vândalos atacaram as sedes dos
Três Poderes em Brasília.
Buscavam criar situações e condições para que
as Forças Armadas interviessem na normalidade do País e, sob pretexto de
fraude, proclamassem a nulidade da eleição do presidente da República. Em
verdade, buscavam (ou até ansiavam) um golpe de Estado.
Tratou-se de movimento organizado da
ultradireita, inconformada com o resultado da eleição para presidente da
República, como revelam as investigações sobre os violentos baderneiros daquele
8 de janeiro de 2023. Com inusitada sanha, destruíram tudo o que encontraram
pela frente, desde vidraças a obras de arte e um relógio de séculos atrás, e
até a toga de um ministro do Supremo Tribunal Federal por eles chamado de
“inimigo”.
Por outro lado, já não vemos grandes
concentrações de trabalhadores no Dia do Trabalho, dando a aparência de que
tudo está resolvido e vivemos no Paraíso terrenal. Há uma espécie de
desmobilização popular. Arrisco um palpite, que nem sequer sei que seja certo:
quem trabalha já não crê na necessidade de reivindicar, pois o atual presidente
é um antigo operário, mesmo atuando como qualquer burocrata que unicamente
busca aparentar o que não é.
No entanto, as datas continuam a dar a pauta
daquilo que, tanto no presente quanto no futuro, devemos repetir ou não
repetir.
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