Folha de S. Paulo
Estimadas em R$ 120 milhões, obras no Jardim
de Alah dividem a população
Prefeitura construções no Passeio Público, mais antigo parque da América Latina
De olho no voto evangélico, a ponto de dizer
que "mexeu com Malafaia,
mexeu comigo", Eduardo Paes toca
o projeto que vai substituir a Cidade das Crianças pela Terra Prometida. O
visitante do parque, com 198 mil metros quadrados, em Santa Cruz, na zona
oeste, poderá se perder na Torre de Babel e atravessar o Mar Vermelho.
O custo do milagre não foi divulgado. Mas terá o dedo da iniciativa privada, no modelo de concessão, com empresas explorando o espaço público. Foi assim no parque Monarco, em Madureira, e em outras praças da zona norte. Nada contra. A questão é estabelecer urgência, benefícios e limites do negócio.
Dois exemplos de como a prefeitura age —ou
deixa de agir— estão na ordem do dia: o Jardim de Alah, que divide Ipanema e
Leblon, dois dos bairros mais valorizados da cidade, e o Passeio Público, ao
lado da Lapa, no coração do problemático centro histórico.
Estimadas em R$ 120 milhões, as obras no
Jardim são alvo de críticas e elogios. A proposta da concessionária é construir
restaurantes, mercados, área para música, estacionamento para mais de cem
carros —e outro jardim, mas suspenso. Moradores reclamam do dano ambiental, com
a derrubada de, no mínimo, 90 árvores. Outros, a favor da reforma, dizem que o
grupo contrário não quer a integração do rico Leblon com a Cruzada São
Sebastião, conjunto habitacional que abrigou os expulsos da Favela do Pinto, em
1955.
"Velho jardim macio e solidário, cheio
de evocações do passado (...) parece relembrar a dolente lamúria dos antigos
amores da cidade", escreveu Mário Pederneiras sobre o Passeio, primeiro
parque público da América Latina, de 1783, hoje vítima de um abandono total. Da
Fonte dos Amores, de Mestre Valentim, não jorra nem água suja.
Ali tudo é tombado pelo Iphan desde 1938. A
prefeitura vê brecha para novas construções, pois o Passeio tem dois quiosques
que no passado foram pontos de comércio. Enquanto isso, o jeito foi fazer uma
roda de samba aos domingos. O samba salva, mas contar só com ele não dá.
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