O Estado de S. Paulo
O cronista tem baixíssima expectativa sobre a
gestão de Luiz Edson Fachin à frente do Supremo e celebra somente a certeza, a
única certeza, de que o novo presidente do tribunal não cantará. Fachin não vai
cantar. Já é muito. Tampouco será visto saracoteando na Sapucaí. Sai o passista
credenciado Luís Roberto Barroso. Entra um juiz. Juízes erram. Errado é um juiz
que derrota algo – hoje o bolsonarismo, amanhã (de novo) o petismo.
Ninguém aguentava mais ser salvo por Barroso. Custa caro. Fachin se beneficia por contraste. Não que não tenha suas relações e preferências. Nós não as conhecemos. Não lhes somos expostos. Não sendo conhecidas, mais dificilmente se expandirão. Chamam isso de discrição – o mínimo que se espera de um magistrado. Não dará entrevistas, não terá atividades empresariais, não irá a festas bancadas pela corporação (para beija-mão de advogados), nem discursará sobre a nossa miséria e como nos protegeu de nós mesmos. Já é muito.
Para prejuízo eventual da pauta jornalística,
é possível que Fachin nem sequer tenha zap. Maravilhosa presidência. Apenas
pelo comportamento. Pela postura. É menos por ele – pelo que poderá entregar –
e mais por quem sucede; pelo que deixará de ocorrer. Em depoimento a Mônica
Bergamo na Folha, Barroso disse que mandou a Jair Bolsonaro uma lista com bons
nomes para ministro. Estivera com o presidente eleito, para quem afirmara ser o
Ministério da Educação o mais importante. O interlocutor, então, pediu-lhe
sugestões. Entregou, claro.
O vaidoso poderia ter sido padrinho de
ministro de Estado do governo de um golpista cujo julgamento teve vez num
tribunal sob sua presidência. É natural para ele, que decerto – sempre agindo
com os melhores propósitos – nunca pensou a respeito. Não faltam padrinhos ali.
Normal para uma Corte que se tornou mesa de negociação-conciliação, formuladora
de políticas públicas, antes de controladora de constitucionalidade.
Fachin é só um juiz – com votos ruins (e
bons) restritos aos autos. Já é muito. Barroso, um monocrata exibido. Seu
personalismo iluminado foi estimulante para que a vocação monocrática dos pares
se impusesse e alastrasse, paraíso à institucionalização do xandonismo. Esse
gênio não mais voltará à lâmpada. Donde a expectativa modestíssima para Fachin
no comando do Supremo, talvez com alguma valorização do colegiado. Coisa pouca,
se houver.
Não há grande margem para comedimento.
Difícil imaginar que venha o necessário choque de plenário, o que equivaleria a
afrontar os planos de Alexandre de Moraes para o 8 de Janeiro permanente. Os
inquéritos xandônicos ainda vão longe; e Flavio Dino já pede passagem para
gerir xandonicamente as relevantes investigações sobre corrupção nos usos das
emendas parlamentares. Xandão é o vice e será o próximo presidente do STF.
Fachin não vai cantar. •
SEG. Carlos Pereira e Diogo Schelp
(quinzenalmente) • TER. Eliane Cantanhêde e Carlos Andreazza • QUA. Vera Rosa e
Marcelo Godoy (quinzenalmente) • QUI. William Waack e Carolina Brígido • SEX.
Eliane Cantanhêde • SÁB. Carlos Andreazza • DOM. Eliane Cantanhêde e Fernando
Schüler
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