Por O Globo
Ex-presidente foi denunciado pela
Procuradoria-Geral da República de liderar tentativa de golpe após pleito de
2022
O presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso, criticou nesta segunda-feira o extremismo presente na política brasileira. Ele previu que em breve ele "será empurrado para a margem da História" e não fará mais parte do cenário, que contará com visões divergentes, mas que respeitam a alternância de poder. As declarações acontecem um dia antes do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na Primeira Turma da Corte, que foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) de liderar uma tentativa de golpe após perder o pleito de 2022.
— Na vida sempre vai existir a polarização,
isso não é o problema. O problema é o extremismo, a intolerância em relação ao
outro. A não admissão de que o outro possa existir e eventualmente possa
prevalecer, do que na verdade na democracia a regra é: quem ganha leva e quem
perde não fica despojado de seus direitos e pode concorrer da próxima vez.
Única coisa que me preocupa é o extremismo, não as visões diferentes do mundo.
E acho que em breve nós vamos empurrar o extremismo para a margem da História.
O que nós vamos ter é uma política onde estarão presentes conservadores,
liberais e progressistas, como a vida deve ser. E alternância no poder é uma
bênção. O que é inaceitável em uma democracia é no caso da derrota você
desrespeitar as regras do jogo — afirmou Barroso.
A fala aconteceu após uma palestra na
Procuradoria-Geral do Estado do Rio de Janeiro (PGE-RJ). Em sua fala, o
ministro destacou ainda que a História do Brasil é marcada por vários episódios
de tentativa de ruptura institucional.
— A História do Brasil sempre foi a história
de golpes e de contragolpes, de tentativas de quebra da legalidade
institucional. Nós agora temos, desde a redemocratização, 40 anos de
estabilidade institucional, se comprovar que houve a tentativa de golpe, o
julgamento ainda vai ocorrer. Julgar é um pouco como encerrar os ciclos do
atraso no país e ter a consciência que a divergência é possível na democracia e
deve se manifestar dentro das regras do jogo. A ideia de que quem perdeu tenta
levar a bola para casa e mudar as regras é um passado que precisamos enterrar —
disse.
Julgamento
O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro
e outros réus do núcleo principal da trama golpista começa nesta terça-feira no
Supremo Tribunal Federal, a partir das 9h. A sessão será aberta pelo presidente
da Primeira Turma, Cristiano Zanin, e a leitura do relatório será feita pelo
ministro Alexandre de Moraes, que apresentará os principais pontos da acusação
e das defesas.
A PGR acusou Bolsonaro de ser o principal
articulador e o maior beneficiário dos atos realizados contra o Estado
Democrático de Direito. Segundo o parecer, o ex-mandatário "agiu de forma
sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar
a insurreição e a desestabilização" da democracia.
São réus no chamado "núcleo crucial" da ação, além do ex-presidente, outras sete pessoas: o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens; os ex-ministros Paulo Sérgio Nogueira, Anderson Torres, Braga Netto e Augusto Heleno; o deputado federal Alexandre Ramagem; o ex-comandante da Marinha Almir Garnier.
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