Folha de S. Paulo
Solavancos de setembro não serão suficientes
para abalar um país que já superou inúmeras adversidades
Serão dez
dias marcados por tensão política e ineditismo histórico, de 2 a 12 deste
setembro trepidante.
Haverá solavancos, mas não suficientes para abalar um país que já enfrentou dois impeachments de presidentes, passou por um século de episódios golpistas, sofreu duas ditaduras, articulou uma transição democrática e agora está prestes a superar na Justiça uma tentativa de interrupção destes 40 anos de legalidade. O Brasil apanha e resiste. É como o samba: "Agoniza, mas não morre".
Pela primeira vez, um ex-presidente da
República será julgado por atentar
contra a ordem institucional e será também inédito o fato de militares
de alta patente figurarem na condição de réus no Supremo Tribunal Federal.
A tensão ficará por conta dos reflexos do
embate interno das forças de governo e oposição e na expectativa da reação
vinda do ambiente externo, contaminado pela sanha agressora de Donald Trump e
sua ideia delirante de se imiscuir no processo.
Da lista de adversidades superadas não nos
esqueçamos da morte do presidente civil eleito em colégio eleitoral e
hospitalizado na véspera da posse, em 14 de março de 1985. Antes disso, a
rejeição da emenda Dante de Oliveira, seguida da exitosa movimentação popular
em prol de eleições diretas, retomadas em 1989.
Naquele meio-tempo, tivemos uma Assembleia
Constituinte que, a despeito da ditadura militar ainda nos calcanhares,
aprovou, nas palavras de Ulysses Guimarães, a Carta Cidadã —que até hoje nos
conduz com seus erros e muitos acertos.
Suplantamos, também, a hiperinflação com o
engajamento da sociedade num projeto de Estado pautado pelo compromisso público
de Fernando Henrique Cardoso e respaldado pelo então presidente Itamar Franco,
vice do impedido Fernando Collor.
Isso aconteceu sob a égide da incerteza, mas
fomos em frente entre os trancos das circunstâncias. Não há, portanto, razão
para não ultrapassarmos mais esse obstáculo no rumo de uma nação que preserva a
liberdade fundada na defesa da legalidade.
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