O Globo
Nano Banana começou a circular pelas redes faz duas semanas. Não era óbvio encontrá-lo. Primeiro foi no site LMArena, que permite a usuários escrever um mesmo comando simultâneo para duas inteligências artificiais que geram imagens. É para comparar o que uma e a outra constroem. Aleatoriamente, por vezes um dos resultados vinha dessa IA nova com nome engraçadinho. E os resultados chocavam: um modelo muito melhor que qualquer outro que existe por aí. Na semana passada, o criador desse Nano Banana enfim apareceu. É o Google. E, nesse campo, das imagens, tem um novo campeão na praça. Não é só isso. O Gemini 2.5 Flash Image, nome oficial do bicho, muda todas as regras do jogo.
O Midjourney constrói imagens muito realistas
e, ao mesmo tempo, com um quê de cinematográficas. Não faz nem meio ano que o
GPT trouxe a capacidade de criar imagens com texto no meio. O que a nova IA do
Google traz é diferente. Ela permite a edição de qualquer fotografia. Tire uma
foto da sua sala, pegue a imagem do sofá no site da loja, suba ambas. Aí é só
escrever: ponha esse sofá embaixo da janela. Você verá sua casa com o móvel
novo. Quer satisfazer uma fantasia do seu filho? Pega aquela foto dele jogando
bola na escola e escreve lá: ponha este menino no Maracanã. Exatamente o mesmo
menino, naquela mesma foto, só que o pátio do colégio virou o Estádio
Jornalista Mário Filho. Se não basta, peça nova mudança. Vista ele com o
uniforme do Flamengo.
Agora ponha a torcida soltando fogos. Encaixe um goleiro apavorado. A
imaginação é o limite. Edições sutis também são do jogo. Se na última
apresentação da sua banda tinha pouco público, ponha mais gente. Quer ser
iluminado por luzes que só Mick
Jagger costuma ter, de novo, é só pedir.
Pois é assim, pedindo, que com Nano Banana
vai-se muito longe. Afinal, ele também cruzou uma linha que as IAs responsáveis
não haviam cruzado. Quer aparecer dando um beijo na atriz famosa? Sobe uma foto
sua e uma dela, pede. O modelo faz. Deseja aquele político com roupa de
palhaço? Tasque a foto. Peça. Não se sentindo satisfeito com o nariz, é só
pedir para deixá-lo mais redondo, mais vermelho e mais reluzente.
Até aqui, os modelos não nos deixavam criar
imagens com fotografias de gente. Nem de anônimos, tampouco de conhecidos. Era
um tanto para evitar a criação de cenas falsas, mas também por dificuldades da
própria IA. O Grok, da xAI de Elon Musk,
deixa inventar cenas com gente famosa, mas não do colega ou da vizinha. Ainda
assim, não eram realistas a ponto de enganar. Serviam mesmo para criar piadas
de redes sociais. Alguns dos modelos abertos também não tinham limites, mas
exigiam conhecimento técnico. O Google decidiu dar esse passo, cruzar essa
linha. Isso quer dizer que posso enfim ter minha foto com o Zico. Posso, até,
escolher se é com o Zico de hoje ou com aquele, campeão do mundo. Mas quer
dizer, também, que qualquer um, qualquer um mesmo, pode construir agora a
imagem de Lula ou
Bolsonaro batendo uma carteira na rua. Ou qualquer outro fazendo qualquer
coisa. Os limites parecem ser apenas dois: nudez não pode, violência extrema
também não.
Nano Banana, não bastasse, é incrivelmente
rápido, mais que a maioria dos concorrentes. Seu truque é que ele aprendeu a
isolar partes de uma imagem. Se você deseja apenas realçar a maquiagem de uma
moça, ou mexer na cor de seu cabelo, é só ali que ele vai mexer. O resto fica
intocado.
Talvez a imposição de um limite que proibisse
usar a imagem de pessoas verdadeiras fosse artificial. Afinal, modelos livres,
que podemos instalar em nossos computadores pessoais, acabariam por permitir
algo assim. Desse jeito, falsários seriam apenas os mal-intencionados com algum
conhecimento técnico. Não quem quer a fantasia do beijo com a atriz ou do filho
no Maraca. Talvez. Pois é.
Mas, por via das dúvidas, lembre que no ano
que vem tem campanha eleitoral. Não acredite muito no que vê. Nem no que é bom,
nem no que é ruim. Então no que acreditar? Nós, jornalistas, nos faremos a
mesma pergunta o ano inteiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário