- Sabemos muito bem onde estamos. Sabemos muito bem onde eles estão.
Não é um diálogo. Essas duas frases, resumem o dito pelo não dito, na conversa, na Malásia, de 45 minutos, entre os presidentes Lula e Trump. Eram agendas diferentes.
Nas falas acima, observa-se uma desconfiança mútua. Evidencia-se o fato de que os pares hemisféricos, convivem num universo de tensão constante, inspirada não em arsenais bélicos, mas em discursos inoportunos, palavras mal colocadas , agressivas e verdades omitidas, como se tudo voasse pelos ares, sem nenhuma consequência (Verba volant) . Faz lembrar a advertência do filósofo Michel Foucault: "As palavras geram ações!"; ou de Platão para quem a realidade (inteligível) é configurada pelos pensamentos ditos ou não ditos. No Brasil tivemos um grande jornalista e político, Carlos Lacerda, que toda vez que abria a boca para dizer alguma coisa, mesmo óbvia, gerava uma consequência.
De fato, assusta a autoridade de um outro país, que não o seu, sair de um restaurante da 5a. Avenida de Nova York, de madrugada, apelando , em altos brados, às Forças Armadas do País anfitrião para desobedecer ao seu Presidente . A democracia é o lócus da liberdade de expressão, mas nem tudo pode ou deve ser feito ou dito, mesmo em lugares isolados e na calada da noite. Espera-se dos cidadãos respeito e bom senso. No discurso, as palavras transitam dentro de um campo semântico, com muitos significados identificáveis... e voam.
Nesse ar expandido que a humanidade respira, cada um tem responsabilidade pelo diz, com ou sem intenção explícita, até por brincadeira, como ocorreu com o senador Sérgio Moro, ao fazer blague sobre um ministro do Supremo Tribunal. Se o sujeito é um chefe de Estado de outro país, acolhido como visitante, a própria fala trivial, tem limites regulados por uma liturgia adotada consensual e institucionalmente, a nível de Estado.
As lideranças políticas da América Latina pecam, em sua maioria, sistematicamente, pelo mal uso da linguagem, seja referindo-se as oposições políticas internas, entre co-partidários ou países pares . Os governantes latino-americanos, com raríssimas exceções, são excessivamente "verborrágicos". Imaginando estar conduzindo um pensamento revolucionário, transmitem mensagens e apelos tirados de fantasias pessoais , refletindo, no mínimo, uma agressão ao modelo de sociedade de povos que tiveram mais êxito em se erigir como nações. Geram sempre problemas para terceiros.
Assim caminha-se na atualidade entre sábios, populistas e boquirrotos . Nessas últimas duas a três semanas, assistiram-se falas desafiadoras e inoportunas saindo de todos os becos políticos, forjadas tanto pela chamada direita, quanto pela vaidosa esquerda . Não tão longe um do outro, Trump e Maduro trocaram farpas discursivas, diria: perigosas para todo o Continente. Israel e o Hamas não se perdoaram mesmo depois dos acordos do cessar fogo. Emitiram advertências das mais variadas e assassinaram pessoas na rua, logo após o armistício. Não estava no Acordo.
O Luiz Fux foi chamado, em plenário, de "ministro irrelevante" pelo seu colega de Supremo Tribunal, Gilmar Mendes, assim como Gilmar já fora acusado por Barroso de ter uma "mente doentia", embora o protagonista da "agenda setting" agora seja Moraes. Nas ruas não se fala, mas se pensa. A enigmática mudança de turma do ministro Luiz Fux no Supremo é um discurso que está na cabeça de todo mundo. Circulam várias versões.
No Congresso, acusações cavernosas vão sendo desenterradas nos depoimentos na CPMI sobre o assalto ao salário dos aposentados. Parecem minas explosivas prontas a implodir o mundo político . Lá vem também uma operação, pouco divulgada, de que a Caixa Econômica vai injetar R$ 20 bilhões nos Correios, ameaçados de falência. Assusta, sim, os cidadãos, pelo fato de esse filme já ter sido visto em ocasião anterior. O conteúdo das falas do Presidente do Brasil , na Malásia, antes do encontro com Trump, aconteceram fora de lugar. Há também os que agem discursivamente no submundo do silêncio materializando suas intenções nos Diários Oficiais que, além de não serem lidos, aceitam qualquer informação chancelada com carimbo da República. Collor, inovou ao publicar, em um jornal diário, de maneira codificada, uma decisão presidencial, de aparência inocente, sob a forma de "anúncio classificado" .
A verdade é que os cidadãos estão muito confusos no " mundo sensível " de Platão - cópia imperfeita das ideias. Para ele, o verdadeiro conhecimento é alcançado pela razão .É como se fossemos protagonistas no "Mito da Caverna": a jornada de um prisioneiro no mundo das sombras, diante da fluidez das falas e a obscuridade do sentido dos eventos . Ninguém compreende o retorno triunfante dos conhecidos empresários irmãos Batista , pulando dos açougues do interior de Goiás para o controle da Eletronuclear. Já existe até um edital procurando especialistas em gestão nuclear. Seriam usinas destinadas a gerar energia na Amazônia , com a ajuda de empresas estrangeiras pouco conhecidas no Brasil. Sempre se cultivou por aqui a ideia de que a energia nuclear deveria ser manipulada exclusivamente pelo Estado (Nacional). Uma nova surpresa vem da Petrobrás, já reivindicando a perfuração de outros poços na Foz do Amazonas, a menos de 15 dias da Conferência do Clima no Brasil . Uma terceira novidade é a construtora Odebrecht , dando a volta por cima, pronta para participar das licitações de obras do Plano de Ação Econômica (PAC) do Governo. Fica a dúvida: De onde vem esses avais oficiais ?
Tudo, parece, acontece à sombra de uma indignação popular silenciosa .Desenrola-se num mundo misterioso e fantástico inspirado nas viagens de Bilbo pelas Montanhas Nevoentas e pelas Floresta das Trevas da Terra Média (Tolkien)à procura de um anel mágico.
* Jornalista e professor

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