Folha de S. Paulo
A abertura de canal real entre Lula e Trump
deixou a oposição entre silenciosa e desengonçada
Se a direita continuar amarrada à
tornozeleira de Bolsonaro, poderá dar adeus ao projeto de poder
A reação de
bolsonaristas à aproximação
dos presidentes Luiz Inacio da Silva e Donald Trump mostrou
como são desengonçados na arte de transformar vitórias em derrotas. São bons em
aproveitar erros e vacilos dos adversários, mas não têm traquejo para aceitar
os acertos nem requinte para usar algum tipo de fino ricochete.
Contrariamente às evidências de que na economia o Brasil é parceiro importante e de que na política Trump não daria a Lula a chance de ganhar apoio popular diante de alguma grosseria, Eduardo Bolsonaro festejou os primeiros dois contatos como sinal de armadilha adiante. Depois da reunião na Malásia, na falta do que dizer, disse que Lula saiu sem nada.
Como nada disso aconteceu, ele esbarrou no
muro da diplomacia e dos interesses comerciais dos dois países. Posa de
enfronhado no estamento de Washington, mas não tem o essencial, agora reservado
a Brasília: acesso a Trump e trânsito real no entorno.
O presidente brasileiro soube se aproximar do
americano despido de ranços ideológicos, mas sem deixar de tocar em assuntos
imprescindíveis além das tarifas, como sanções a autoridades, processo criminal
de Jair
Bolsonaro e a tensão na vizinha Venezuela.
Diplomatas, empresários e ministros, em
especial Geraldo
Alckmin, conseguiram contornar os efeitos de asperezas trocadas
pelos dois presidentes. Ainda que não se obtenha tudo —negociação exige
transigência—, por ora obteve-se o principal, que foi a superação da fase de
atritos contumazes.
Pois se para os inquilinos do Palácio do
Planalto chegou a hora de substituir o antiamericanismo infantil pela
racionalidade, até em nome de ganhos eleitorais, para a oposição já passou da
hora de se libertar das amarras que a mantêm presa à tornozeleira de Jair
Bolsonaro.
Não que ele seja um
"nada", como disse Lula a Trump; mesmo com menos relevância
detém poder de transferir votos, mas estará em cumprimento de pena, fora do
jogo presencial. Isso obriga os pretensos herdeiros do capital a se mexer —ou
vão perder.

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