quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Castro aposta no bangue-bangue, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Após maior matança da história do estado, governador critica ministérios e STF

Ainda não era meio-dia quando a equipe de Cláudio Castro abasteceu as redes com um vídeo sobre a operação de ontem. A peça foi embalada com trilha sonora de filme de ação. Exibia policiais de uniforme camuflado, viaturas em alta velocidade e um fuzil repousado no asfalto.

Estrelado por forças públicas, o vídeo tinha fins particulares. Ao fundo, uma marca-d’água convidava o visitante a seguir o perfil pessoal do governador. Um instantâneo da política na era do Instagram, em que até matanças viram material de autopromoção.

Castro apostou alto na megaoperação que mobilizou 2.500 agentes com o objetivo declarado de combater o Comando Vermelho. A ação se concentrou nos complexos da Penha e do Alemão. Resultou num banho de sangue nunca antes visto no Rio: ao menos 64 mortos, sendo quatro policiais.

Dezenas de corpos ainda jaziam nas favelas quando o governador subiu no palanque. Buscava um bode expiatório para a crise na segurança do estado. Diante das câmeras, ele atacou o governo federal e o STF. Disse que o Rio estaria “sozinho” e criticou o julgamento que impôs regras para reduzir a letalidade policial. “Não temos ajuda”, discursou.

Mais tarde, o ministro Ricardo Lewandowski informou que não houve pedido de apoio antes ou durante a operação. Ouvido pela Folha de S.Paulo, opinou que Castro arrisca ser “engolido pelo crime”. “Se ele sentir que não tem condições, ele tem que jogar a toalha e pedir GLO ou intervenção federal”, disse.

Alheios ao bate-boca das autoridades, os cariocas viveram mais um dia de pânico. As principais vias expressas foram fechadas. O tráfico sequestrou ao menos 70 ônibus e montou barricadas em diversos pontos da cidade. O sistema de transporte público ficou sobrecarregado, e milhares de pessoas não conseguiram voltar para casa.

A polícia informou que prendeu 81 suspeitos e apreendeu 93 fuzis. A ver se isso produzirá alguma diferença no poderio do CV e no cotidiano das comunidades dominadas pelo crime.

Com a popularidade na lona e o futuro político incerto, Castro renovou a aposta no bangue-bangue. Na legenda do vídeo que festejou a matança, ele emulou Donald Trump ao falar em “narcoterrorismo” e prometeu continuar “enfrentando de frente (sic) os vagabundos”

 

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