quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Cláudio Castro promove 'matança produzida pelo Estado', diz nota conjunta de quase 30 entidades, por Mônica Bergamo

Folha de S. Paulo

Organizações de direitos humanos dizem que ação expõe fracasso da política de segurança fluminense

Ação é a mais letal da história do estado; além das vítimas, 81 homens foram presos

Quase 30 organizações de direitos humanos e coletivos da sociedade civil divulgaram, nesta terça-feira (28), uma nota conjunta em que afirmam que a Operação Contenção, realizada nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, e que deixou ao menos 64 mortos, foi uma "matança produzida pelo Estado brasileiro".

As entidades dizem que a ação —a mais letal da história fluminense— "expõe o fracasso e a violência estrutural da política de segurança pública" e "coloca a cidade em estado de terror". O texto responsabiliza diretamente o governador Cláudio Castro (PL), que, segundo a nota, "detém o título de responsável por quatro das cinco operações mais letais da história do Rio de Janeiro".

Entre as signatárias estão Anistia Internacional Brasil, Justiça Global, Conectas Direitos Humanos, CESeC (Centro de Estudos de Segurança e Cidadania), CEJIL, Instituto Papo Reto, Redes da Maré, ISER, Observatório de Favelas, Instituto Sou da Paz, Rede Justiça Criminal, Casa Fluminense e Frente Estadual pelo Desencarceramento, entre outras organizações e movimentos.

A nota acusa o governo de estimular a mentalidade de guerra e premiar a letalidade policial, citando a nova Lei Orgânica da Polícia Civil, que prevê gratificação por bravura — dispositivo que substitui a antiga "gratificação faroeste". "Ao premiar o confronto e a morte, o governo transforma as comunidades em campos de batalha, onde moradores são tratados como inimigos internos", afirmam.

As organizações também criticam o que classificam como tentativas de enfraquecer mecanismos de controle policial, como a ADPF das Favelas, e de esvaziar a ADPF 976, que buscava reforçar obrigações de planejamento e preservação de vidas.

O documento cita ainda alertas da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre o caráter racista e discriminatório da política de "guerra às drogas" adotada pelo estado. Nos últimos dez anos, 5.421 jovens de até 29 anos foram mortos em intervenções policiais, segundo dados do Instituto de Segurança Pública.

"O que se testemunha hoje é o colapso de qualquer compromisso com a legalidade e os direitos humanos", afirmam as entidades. "A segurança pública deve garantir direitos, não violá-los. As moradoras e os moradores das favelas têm direito à vida, à integridade física e à paz — e isso não é negociável."

 

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