O Estado de S. Paulo
A direita brasileira parece parada e não consegue deixar de se amarrar a postes
As eleições de 2026 parecem neste momento
abertas em boa parte pelo fato do que se chama de direita achar que um bom
poste funcionaria. Um poste vistoso, pintado com as cores certas do
bolsonarismo.
Há crises que fazem surgir lideranças em
função da volatilidade, perigo, abrangência e imprevisibilidade dos fatos. É a
crise que o Brasil enfrenta, com inéditos componentes geopolíticos nas questões
até aqui “exclusivamente” domésticas.
Mas ela não está projetando lideranças. Lula
é a expressão acabada de mais do mesmo, apesar da fantasia mal-ajambrada de
estadista que lhe foi emprestada pelo adversário político. O grande problema do
lado oposto do espectro não é a falta de nomes, mas de estaturas.
Reina em elites brasileiras econômicas uma dupla sensação de desamparo. A primeira por cortesia de Donald Trump, que, via tarifaço, exibiu sua vulnerabilidade e a falta de inteligência estratégica internacional. A segunda sensação de desamparo surge do quadro político doméstico.
Embora Lula acredite que a conta do
assistencialismo, acrescida de inflação comportada, lhe garanta a eleição,
parece se esquecer de seu maior adversário.
Trata-se de um pervasivo sentimento de que as
coisas estão andando errado, que o “sistema” de instituições funciona contra
quem trabalha. E do cansaço frente a uma figura política velha que não vende
mais sonhos.
O resultado geral é uma subjetiva sensação
que se poderia chamar de “claustrofobia política”. A expressão vem sendo
utilizada pelo escritor americano Robert Kaplan para descrever cenários em
sistemas políticos bastante diferentes entre si na Europa, Estados Unidos e
América Latina, mas sofrendo da mesma percepção generalizada de que os caminhos
conhecidos não levam mais a lugar algum.
No Brasil, esse fenômeno (a tecnologia da
informação tornou o mundo um lugar bem pequeno) é acrescido de uma palpável
ansiedade. O debate político está distante, para se dizer o mínimo, dos
problemas mais abrangentes. E sem foco preciso.
Essa seria, por definição, a função clássica
de lideranças, não só no campo da política. É verdade que boa parte dos
impasses institucionais no Brasil vem de um desequilíbrio dos Poderes e da
falência do sistema político cuja evolução é longa na linha do tempo.
Mas que está se agravando sem que se
consolidem correntes, linhas ou movimentos capazes de criar um sentido de
conjunto, especialmente naquilo que se poderia chamar de direita. Parece parada,
incapaz de galvanizar um eleitorado reconhecidamente de centro-direita. Está
amarrada a um poste.
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