O Globo
O fator Lula é hoje a variável que importa,
para além de outros fatores com peso menor, como os ataques de Eduardo
Bolsonaro
O que quer Tarcísio de Freitas? A resposta é
óbvia. Ser presidente da República. Daí vem outra pergunta: quando Tarcísio se
lançará à Presidência? Apesar da especulação na praça, a verdade é que hoje não
existe resposta a essa pergunta. Caciques do Centrão, mercado financeiro,
pessoal dos palácios do Planalto e dos Bandeirantes... ninguém sabe.
Nem Tarcísio tem a resposta. Hoje é impossível cravar se o governador de São Paulo será candidato a presidente em 2026 — ou se esperará 2030. Esse é o fato. O resto é torcida, chute ou especulação da Faria Lima, com muito banco comprado (apostando) em Tarcísio 2026 — ou tudo junto e misturado.
Pela conjuntura atual, para Tarcísio é mais
negócio aguardar 2030. Há alguns meses a conjuntura para uma candidatura presidencial
era favorável, mas a maré mudou. Lula recuperou
popularidade, ainda que discretamente. Saiu das cordas, resgatado pelo debate
“ricos versus pobres” e pelo discurso da soberania — presente de Eduardo
Bolsonaro. Pode enfrentar nova crise de popularidade até outubro do ano que vem
e se tornar um candidato mais frágil, é verdade. Mas, a preços de hoje, é forte
competidor. Além disso, tem experiência em eleições e detém o fator mais
determinante numa disputa: a caneta do mandatário. Os gastos tendem a aumentar
no ano que vem em razão da eleição — receita usada por Dilma em 2014, por
Bolsonaro em 2022 e por qualquer um que dispute a reeleição.
O fator Lula é hoje a variável que importa,
para além de outros fatores com peso menor, como os ataques de Eduardo
Bolsonaro, as outras candidaturas na direita e o timing de Bolsonaro para
anunciar que não disputará a eleição, o que deve ocorrer até abril — mas o
ex-presidente, para evitar seu esvaziamento político, segurará quanto puder.
Como ficou claro no encontro entre o governador e o ex-presidente nesta
segunda-feira, a agenda de Bolsonaro é anistia, não eleição.
Portanto, de um lado, um cenário incerto. De
outro, uma reeleição pavimentada em São Paulo, com a máquina nas mãos. A aposta
de quem advoga por esperar até 2030 passa pela máxima do “quanto pior, melhor”.
Segundo essa leitura, comum no entorno de Tarcísio, haverá uma crise fiscal na
próxima gestão. A economia patinará, e o clima será de Dilma 2. Para essa
turma, seria uma oportunidade para ele emergir como líder da oposição, com
apoio do PIB,
se posicionando numa disputa mais fácil sem o veterano Lula. O problema aqui,
no entanto, é que tudo tem de correr conforme esse script, e é claro que a
conjuntura daqui a cinco anos é imprevisível. Há ainda o risco de o cavalo
encilhado não passar outra vez. Até lá, outra liderança, com apelo no
eleitorado bolsonarista e de centro-direita, poderá surgir.
A despeito da ansiedade do Centrão, que não
quer nenhum dos Bolsonaros como candidato, e do mercado financeiro, que roda
modelos comprovando as chances de eleição de Tarcísio em 2026, numa espécie de
“vai que dá”, o dilema está posto, e a pergunta sobre quando ele será candidato
segue sem resposta. Se alguém disser a você hoje que é capaz de respondê-la,
pode comprar. Mas pelo valor de uma pataca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário