quinta-feira, 2 de outubro de 2025

O dilema de Tarcísio. Por Julia Duailibi

O Globo

O fator Lula é hoje a variável que importa, para além de outros fatores com peso menor, como os ataques de Eduardo Bolsonaro

O que quer Tarcísio de Freitas? A resposta é óbvia. Ser presidente da República. Daí vem outra pergunta: quando Tarcísio se lançará à Presidência? Apesar da especulação na praça, a verdade é que hoje não existe resposta a essa pergunta. Caciques do Centrão, mercado financeiro, pessoal dos palácios do Planalto e dos Bandeirantes... ninguém sabe.

Nem Tarcísio tem a resposta. Hoje é impossível cravar se o governador de São Paulo será candidato a presidente em 2026 — ou se esperará 2030. Esse é o fato. O resto é torcida, chute ou especulação da Faria Lima, com muito banco comprado (apostando) em Tarcísio 2026 — ou tudo junto e misturado.

Pela conjuntura atual, para Tarcísio é mais negócio aguardar 2030. Há alguns meses a conjuntura para uma candidatura presidencial era favorável, mas a maré mudou. Lula recuperou popularidade, ainda que discretamente. Saiu das cordas, resgatado pelo debate “ricos versus pobres” e pelo discurso da soberania — presente de Eduardo Bolsonaro. Pode enfrentar nova crise de popularidade até outubro do ano que vem e se tornar um candidato mais frágil, é verdade. Mas, a preços de hoje, é forte competidor. Além disso, tem experiência em eleições e detém o fator mais determinante numa disputa: a caneta do mandatário. Os gastos tendem a aumentar no ano que vem em razão da eleição — receita usada por Dilma em 2014, por Bolsonaro em 2022 e por qualquer um que dispute a reeleição.

O fator Lula é hoje a variável que importa, para além de outros fatores com peso menor, como os ataques de Eduardo Bolsonaro, as outras candidaturas na direita e o timing de Bolsonaro para anunciar que não disputará a eleição, o que deve ocorrer até abril — mas o ex-presidente, para evitar seu esvaziamento político, segurará quanto puder. Como ficou claro no encontro entre o governador e o ex-presidente nesta segunda-feira, a agenda de Bolsonaro é anistia, não eleição.

Portanto, de um lado, um cenário incerto. De outro, uma reeleição pavimentada em São Paulo, com a máquina nas mãos. A aposta de quem advoga por esperar até 2030 passa pela máxima do “quanto pior, melhor”. Segundo essa leitura, comum no entorno de Tarcísio, haverá uma crise fiscal na próxima gestão. A economia patinará, e o clima será de Dilma 2. Para essa turma, seria uma oportunidade para ele emergir como líder da oposição, com apoio do PIB, se posicionando numa disputa mais fácil sem o veterano Lula. O problema aqui, no entanto, é que tudo tem de correr conforme esse script, e é claro que a conjuntura daqui a cinco anos é imprevisível. Há ainda o risco de o cavalo encilhado não passar outra vez. Até lá, outra liderança, com apelo no eleitorado bolsonarista e de centro-direita, poderá surgir.

A despeito da ansiedade do Centrão, que não quer nenhum dos Bolsonaros como candidato, e do mercado financeiro, que roda modelos comprovando as chances de eleição de Tarcísio em 2026, numa espécie de “vai que dá”, o dilema está posto, e a pergunta sobre quando ele será candidato segue sem resposta. Se alguém disser a você hoje que é capaz de respondê-la, pode comprar. Mas pelo valor de uma pataca.

 

Nenhum comentário: