quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Saúde: as urgências e o negacionismo. Por Míriam Leitão

O Globo

Crise do metanol: ministro da Saúde prevê aumento das notificações à medida que alerta mobiliza profissionais de saúde

O pai de Alexandre Padilha, Anivaldo Padilha, foi exilado político nos Estados Unidos, nos anos 1970, e o ministro tem dois irmãos que são cidadãos americanos, um deles ainda mora lá. Ele contou estes fatos para dizer que já visitou muitas vezes os Estados Unidos, conhece bem o país, portanto, não se preocupa com as restrições que recentemente enfrentou do governo de Donald Trump. Sua preocupação é com a negociação para que haja na COP 30 um esforço global para enfrentar os problemas na saúde em decorrência da mudança climática. “Se tem um setor que está sentindo o impacto é a saúde. As enchentes do Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia, o aumento da temperatura. Está tendo caso de chikungunya na França, ou seja, o aumento da temperatura está permitindo a circulação do vetor”. O negacionismo de Trump atrapalha a cooperação internacional. O Brasil vai lançar na COP 30 o Plano Belém para a adaptação do setor aos efeitos que já estão sendo sentidos.

Nos últimos dias, o ministro da Saúde tem se dedicado à urgência da intoxicação por metanol em bebidas destiladas. Ele prevê um aumento das notificações e acredita que, com isso, será possível rastrear a origem do problema.

— A nossa expectativa é que aumente o número de casos, pelo menos suspeitos, porque o alerta chama a atenção dos profissionais de saúde. E é muito importante a notificação. Quando o profissional de saúde conversa com o paciente, pergunta onde ele comprou a bebida, se foi em uma festa, a gente consegue identificar o fornecedor, desvendar a cadeia, e isso permite que as forças de segurança atuem com mais eficácia. Já apareceu em Pernambuco. É possível que surjam em outros lugares em outros estados — explicou Padilha.

Ocorreu um estranhamento entre os governos federal e estadual, porque o governador Tarcísio de Freitas não gostou de o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, terem levantado a hipótese de relação com o crime organizado. Eu perguntei ao ministro, em entrevista na GloboNews, sobre esse conflito.

— O meu papel é o de ministro da Saúde. Eu tenho uma ótima relação tanto com a secretaria estadual de Saúde, quanto com as secretarias municipais. As vigilâncias estão em contato. A entrada da Polícia Federal é natural pela suspeita de haver casos em outros estados. Sou médico, quando vejo um paciente eu não parto de um diagnóstico apenas. O atual governo federal está agindo de uma forma diferente da que o presidente da República anterior agiu na Saúde.

O efeito do negacionismo em relação às vacinas, propagado no governo anterior, ainda não foi revertido. Perguntei ao ministro o que ainda impede a cobertura vacinal de voltar aos níveis anteriores à pandemia.

— Nós estamos vencendo essa batalha. Desde 2023 está aumentando a cobertura vacinal em 15 das 16 vacinas básicas. Mas ainda há uma longa batalha para vencer. A gente faz pesquisas, inclusive de opinião, e tem ainda cerca de 40% dos pais e mães que hesitam em relação às vacinas por conta das mentiras que foram espalhadas aqui e no mundo. Relatório da Organização Pan-Americana da Saúde, divulgado em julho, apontou que dos 7.200 casos de sarampo no continente americano, sete mil foram na América do Norte, por conta da política antivacina da atual administração Trump.

Padilha contou que as atitudes do governo americano — perseguição a pesquisadores e cortes de financiamentos para a descoberta de novas vacinas — estão fazendo com que indústrias de produção de vacinas e medicamentos sejam atraídos para outros países, inclusive para o Brasil.

— Uma empresa que produz vacinas com RNA mensageiro firmou uma parceria com o Instituto Butantan e o SUS para produzir aqui. Com outra indústria de matriz norte-americana acabamos de fechar um acordo de cooperação para uma nova vacina a ser introduzida em novembro contra a bronquiolite.

O ministro contou que na COP, sob a liderança do Brasil e com outros países que sediaram as últimas cinco conferências será lançado o “Plano Belém”, de adaptação dos sistemas de saúde às mudanças climáticas. Uma parte do plano é preparar centros de monitoramento em todo mundo, outra é o compartilhamento de experiências de enfrentamento dos vários efeitos concretos na saúde da mudança do clima.

 

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