O Estado de S. Paulo
A situação é ruim, assim como a política econômica que o governo segue, muito voltada a conveniências eleitorais
Estamos entrando no último trimestre do ano
e, já no terceiro trimestre, houve sinais de desaceleração econômica. O último
que vi foi anunciado na segunda-feira passada e atingiu o mercado de trabalho,
que vinha mostrando muita resistência. Segundo o noticiário, a geração de
empregos formais foi de 147,4 mil empregos em agosto, enquanto o mercado previa
182 mil.
E, no dia seguinte, o jornal Valor Econômico teve este título na principal reportagem de primeira página: Desaquecimento da economia é desafio adicional para as contas públicas em 2026. Enquanto isso, as projeções do mercado indicam um crescimento do PIB de apenas 1,8% e o Banco Central fala de um número ainda mais baixo: 1,5%. A mesma reportagem informa que o Projeto de Lei Orçamentária de 2026 do governo federal enviado ao Congresso prevê expansão do PIB de 2,44% (!). Talvez a ideia seja de, com isso, aumentar as despesas previstas para 2026 e, depois, dar um jeito de aumentar as receitas ou não contar novas despesas no déficit público.
Completando essa questão sobre notícias de
desaceleração, há esta bem contundente, de setembro, que chegou via internet,
de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo (CNC): “Quase metade dos varejistas projeta piora da economia, maior
porcentual desde 2020”. E segue: “O Índice de Confiança do Empresário do
Comércio (Icec) recuou 5,0% em setembro, na comparação com agosto, e atingiu
97,2 pontos – abaixo da linha dos 100 pontos que separa otimismo de pessimismo.
É a primeira vez desde maio de 2021 que o indicador retorna a esse patamar,
sinalizando um ambiente de cautela semelhante ao observado nos primeiros meses
da pandemia de covid-19. Todos os componentes do índice apresentaram retração,
com destaque para as expectativas dos empresários, que caíram 7,0% em relação
ao mês anterior. Os investimentos também recuaram, ainda que em menor
intensidade (-2,6%)”.
“A confiança é um termômetro essencial da
atividade econômica e reflete diretamente o humor das famílias. Quando o
consumidor se retrai, o empresário também posterga investimentos e
contratações, o que compromete a geração de empregos”, afirmou o presidente do
Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.
Passando à política econômica, a do
presidente Lula deixa muito a desejar. Ele é populista, sempre adepto de mais
gastos públicos, e desde o início de seu terceiro mandato vem procurando
ampliá-los, inclusive recorrendo a gastos que deixam de ser contados como
déficit primário. Candidato à reeleição em 2026, evita tocar em problemas
crônicos da gestão fiscal, como no caso da Previdência Social, que está com um
déficit enorme e carece de uma nova reforma, o que, aliás, é um problema
frequente em vários outros países, em razão do envelhecimento da população, que
diminui o número de contribuintes mais jovens. Seria necessário aumentar o
limite de idade da aposentadoria, mas isso não passa pelos seus critérios
eleitorais e o problema vai se agravando, inclusive ampliando o déficit
público.
Como os benefícios sociais são múltiplos, as
pessoas mais pobres vão ampliando os seus gastos de consumo e levando a uma
inflação maior. O Banco Central, que cuida dela, aumentou a taxa básica de
juros para o altíssimo nível de 15% ao ano, o que teve forte impacto nas
compras a prazo e na disposição dos empresários em investir, contribuindo assim
para a desaceleração da economia. Lula parece não enxergar essas consequências
de sua gastança.
O que fazer? Aqui caímos no campo ainda mais
incerto das esperanças, pois não vejo na nossa classe política gente capaz e
disposta a enfrentar a impopularidade de medidas rápidas e duras para encarar a
crise fiscal, mas com o ganho de reduzir a taxa básica de juros e buscar taxas
de crescimento do PIB bem maiores do que as que hoje dominam nosso mau cenário
econômico e social à frente.
No ano que vem haverá eleição para
presidente, parlamentares e governadores dos Estados, e seria uma boa ocasião
para que a população cobrasse dos candidatos o trânsito por esse caminho,
perguntando-lhes o que vão fazer pelo crescimento econômico e social do País,
inclusive sobre as medidas impopulares.
Lula até hoje não apresentou um plano
integrado de governo, apenas prometeu algumas coisas populistas que vem
entregando, mas a um custo fiscal imenso, que não é enfrentado com vigor.
Jornalistas teriam um grande papel nesse
contexto. São bons de fazer perguntas e divulgá-las nos muitos espaços
jornalísticos de que dispõem. O eixo básico seria: qual o seu plano para atacar
a crise fiscal, inclusive em áreas difíceis como a da Previdência Social?
Empresários também poderiam desempenhar um
grande papel na conversão de candidatos e de governantes na direção deste novo
rumo, pois estão acostumados a conversar com eles, mas em vários casos também
precisariam mudar de direção, deixando aquela de pedir favores para si mesmos
sem se preocuparem com o desenvolvimento econômico e social do País.
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