quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Economia dá sinais de desaceleração. Por Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

A situação é ruim, assim como a política econômica que o governo segue, muito voltada a conveniências eleitorais

Estamos entrando no último trimestre do ano e, já no terceiro trimestre, houve sinais de desaceleração econômica. O último que vi foi anunciado na segunda-feira passada e atingiu o mercado de trabalho, que vinha mostrando muita resistência. Segundo o noticiário, a geração de empregos formais foi de 147,4 mil empregos em agosto, enquanto o mercado previa 182 mil.

E, no dia seguinte, o jornal Valor Econômico teve este título na principal reportagem de primeira página: Desaquecimento da economia é desafio adicional para as contas públicas em 2026. Enquanto isso, as projeções do mercado indicam um crescimento do PIB de apenas 1,8% e o Banco Central fala de um número ainda mais baixo: 1,5%. A mesma reportagem informa que o Projeto de Lei Orçamentária de 2026 do governo federal enviado ao Congresso prevê expansão do PIB de 2,44% (!). Talvez a ideia seja de, com isso, aumentar as despesas previstas para 2026 e, depois, dar um jeito de aumentar as receitas ou não contar novas despesas no déficit público.

Completando essa questão sobre notícias de desaceleração, há esta bem contundente, de setembro, que chegou via internet, de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC): “Quase metade dos varejistas projeta piora da economia, maior porcentual desde 2020”. E segue: “O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec) recuou 5,0% em setembro, na comparação com agosto, e atingiu 97,2 pontos – abaixo da linha dos 100 pontos que separa otimismo de pessimismo. É a primeira vez desde maio de 2021 que o indicador retorna a esse patamar, sinalizando um ambiente de cautela semelhante ao observado nos primeiros meses da pandemia de covid-19. Todos os componentes do índice apresentaram retração, com destaque para as expectativas dos empresários, que caíram 7,0% em relação ao mês anterior. Os investimentos também recuaram, ainda que em menor intensidade (-2,6%)”.

“A confiança é um termômetro essencial da atividade econômica e reflete diretamente o humor das famílias. Quando o consumidor se retrai, o empresário também posterga investimentos e contratações, o que compromete a geração de empregos”, afirmou o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Passando à política econômica, a do presidente Lula deixa muito a desejar. Ele é populista, sempre adepto de mais gastos públicos, e desde o início de seu terceiro mandato vem procurando ampliá-los, inclusive recorrendo a gastos que deixam de ser contados como déficit primário. Candidato à reeleição em 2026, evita tocar em problemas crônicos da gestão fiscal, como no caso da Previdência Social, que está com um déficit enorme e carece de uma nova reforma, o que, aliás, é um problema frequente em vários outros países, em razão do envelhecimento da população, que diminui o número de contribuintes mais jovens. Seria necessário aumentar o limite de idade da aposentadoria, mas isso não passa pelos seus critérios eleitorais e o problema vai se agravando, inclusive ampliando o déficit público.

Como os benefícios sociais são múltiplos, as pessoas mais pobres vão ampliando os seus gastos de consumo e levando a uma inflação maior. O Banco Central, que cuida dela, aumentou a taxa básica de juros para o altíssimo nível de 15% ao ano, o que teve forte impacto nas compras a prazo e na disposição dos empresários em investir, contribuindo assim para a desaceleração da economia. Lula parece não enxergar essas consequências de sua gastança.

O que fazer? Aqui caímos no campo ainda mais incerto das esperanças, pois não vejo na nossa classe política gente capaz e disposta a enfrentar a impopularidade de medidas rápidas e duras para encarar a crise fiscal, mas com o ganho de reduzir a taxa básica de juros e buscar taxas de crescimento do PIB bem maiores do que as que hoje dominam nosso mau cenário econômico e social à frente.

No ano que vem haverá eleição para presidente, parlamentares e governadores dos Estados, e seria uma boa ocasião para que a população cobrasse dos candidatos o trânsito por esse caminho, perguntando-lhes o que vão fazer pelo crescimento econômico e social do País, inclusive sobre as medidas impopulares.

Lula até hoje não apresentou um plano integrado de governo, apenas prometeu algumas coisas populistas que vem entregando, mas a um custo fiscal imenso, que não é enfrentado com vigor.

Jornalistas teriam um grande papel nesse contexto. São bons de fazer perguntas e divulgá-las nos muitos espaços jornalísticos de que dispõem. O eixo básico seria: qual o seu plano para atacar a crise fiscal, inclusive em áreas difíceis como a da Previdência Social?

Empresários também poderiam desempenhar um grande papel na conversão de candidatos e de governantes na direção deste novo rumo, pois estão acostumados a conversar com eles, mas em vários casos também precisariam mudar de direção, deixando aquela de pedir favores para si mesmos sem se preocuparem com o desenvolvimento econômico e social do País.

 

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