O Estado de S. Paulo
A criação de um Estado palestino é a consequência desse processo, o que implica que o seja por meio de uma convivência pacífica com o Estado judeu
É bastante curiosa a cobertura que tem sido dada ao plano de paz para o Oriente Médio, proposto pelo presidente Trump. Trata-se de uma proposta arrojada, delineando um caminho claro de execução. Não se contenta com propostas abstratas e inexequíveis, mas apresenta etapas a serem cumpridas. Nada será fácil, visto que muitos dos protagonistas tudo farão para torpedear. No entanto, mal essa proposta foi anunciada, os seus críticos contumazes se voltaram para condená-la, expondo simplesmente preconceitos e posicionamentos ideológicos.
Trata-se de um plano de paz que começa por um
cessar-fogo, considerando a correlação militar estabelecida após dois anos de
combate. Como acontece em todas as guerras, olhe-se para o século 19 ou 20, há
vencedores e vencidos. Evidentemente, os primeiros ditam as condições
essenciais, cabendo aos segundos aceitar a derrota. Isso pode significar a
conquista de territórios, que podem ou não ser devolvidos, dependendo das
negociações; desarmamento dos perdedores; previsões fronteiriças quanto ao
futuro; e assim por diante. Ora, o inusitado consiste em que, para a esquerda
mundial, as posições foram invertidas, como se coubesse ao Hamas, uma
organização terrorista, ditar as condições e coubesse a Israel, um Estado
democrático, somente o dever de aceitá-las. Logo, é coerente que o plano de
Trump proponha uma rendição parcial.
Não convém tampouco esquecer que a causa da
guerra foi o massacre do 7 de Outubro, com mais de 1.200 pessoas assassinadas e
250 sequestradas. A barbárie foi completa com mulheres violadas e mutiladas
genitalmente e crianças queimadas vivas, com corpos de adultos fumegando nas
ruas, amontoados uns sobre os outros. Em 2005, Israel devolveu toda a Faixa de
Gaza para os palestinos sob o governo de Sharon, de direita, não ficando nem
com um metro de território. Ganhou, todavia, como retribuição, um ninho de
terroristas, após o Hamas ter derrotado o Fatah, com seus membros sendo
assassinados, alguns jogados de edifícios. Nada muito diferente daquilo que
essa organização terrorista está agora fazendo, disparando tiros na nuca de
seus opositores palestinos nas ruas de Gaza.
Dedica-se, isto sim, ao culto à morte. Nunca almejou a criação de um Estado palestino, mas voltou-se concretamente à eliminação do Estado de Israel, cavando, assim, a sua própria sepultura. Portanto, não deveria estranhar que o plano Trump proponha como segunda etapa o desarmamento do Hamas e a desmilitarização de Gaza. Enquanto essa organização estiver no poder, exercendo o terror e armada, nenhuma paz será possível, tampouco a criação de um Estado palestino.
Uma vez a guerra decretada, a persistência do
Hamas em não libertar os reféns, em tudo contribuiu para a sua duração. Foram
utilizados como moeda de troca, aquilo que a esquerda mundial considera como
“resistência”, palavra que só pode significar, nesse contexto, aquiescência à
violência, ao ódio, numa renúncia a oferecer um bem-estar aos palestinos. E o
plano americano contemplou bem essa situação ao colocar como sua primeira etapa
a libertação dos reféns e a entrada maciça de ajuda humanitária. Israel, ato
contínuo, retirou suas tropas para um novo perímetro, até que as fases de sua
implementação sejam preenchidas, quando sim haveria a retirada completa. E o
que está fazendo o Hamas? Criando desculpas para não entregar os corpos dos
reféns, numa flagrante violação do acordado.
Note-se que o plano Trump contou com a
participação e o apoio incondicional de países árabes e muçulmanos. Sem eles, a
proposta de paz nem teria sido possível. Para isso, usaram como instrumentos
negociações secretas e cooperação nas áreas militar e de inteligência com
Israel. Para eles, o Hamas é uma organização fantoche do Irã xiita, procurando
dominar essa região em prejuízo dos árabes sunitas. Essa outra rivalidade opera
como pano de fundo, ressaltando o vínculo estreito entre esses países e a atual
administração americana. O Egito, por exemplo, é inimigo jurado da Fraternidade
Muçulmana, da qual o Hamas é um rebento. Chegou a fechar sua fronteira com esse
território, fazendo o mesmo que Israel, sem que houvesse indignação dos
islamo-esquerdistas. O bloqueio foi também egípcio e não houve nenhuma flotilha
de “solidariedade”, de enganação.
A criação de um Estado palestino é a consequência desse processo, o que implica que o seja por meio de uma convivência pacífica com o Estado judeu. Trump considera essa demanda como a culminação dessa trajetória, pressupondo a eliminação do Hamas e uma Autoridade Palestina não corrupta, hoje incapaz de governar a Cisjordânia. Seja dito, porém, em sua defesa, que os assentamentos israelenses nessas áreas procuram torpedear qualquer acordo. Declarações genéricas de apoio ao Estado palestino até agora só favoreceram o Hamas, que se considerou legitimado internacionalmente, em nada contribuindo para a causa. Em outra orientação, Trump apresenta um mapa do caminho a ser trilhado.
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