Folha de S. Paulo
O que mudou no cálculo político quanto a
atratividade de ocupar uma cadeira na Esplanada dos Ministérios?
Atribuir a mudança de posição exclusivamente
à popularidade de Lula é uma leitura apressada
Em abril deste ano, quando Juscelino
Filho, deputado
federal eleito pelo União Brasil no
Maranhão, anunciou a saída do Ministério das Comunicações, o também maranhense
Pedro Lucas Fernandes, deputado do mesmo partido em seu segundo mandato, alegou
que sua contribuição com o país seria maior na liderança da bancada do União
Brasil na Câmara dos
Deputados do que como ministro.
A recusa do deputado resultou na apressada conclusão de que o Executivo não tinha mais o que oferecer para fazer frente aos benefícios já controlados pelo Legislativo, e que ocupar uma cadeira na Esplanada dos Ministérios seria menos vantajoso do que permanecer na Câmara.
Esse diagnóstico de perda de apelo do
Executivo dominou o debate político até a última semana, quando o
correligionário de Pedro Lucas, Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes),
seu conterrâneo, se recusaram a deixar seus postos de ministros e reassumir
suas posições como deputados, mesmo sob ameaças de perderem o controle dos
diretórios estaduais de seus partidos.
Fala-se do peso da votação do
presidente Lula nos
estados de origem de Fufuca e Sabino em 2022, do controle orçamentário de que
os ministros teriam que abrir mão, e do volume de emendas alocadas nessas
pastas. Considerando os orçamentos de 2024 e 2025 e a proposta orçamentária de
2026, o orçamento sob responsabilidade de cada um dos dois ministros que agora
ficaram no governo é aproximadamente a metade do orçamento do Ministério das
Comunicações, recusado em abril.
Em apenas seis meses, algo mudou. Ocupar um
posto na Esplanada dos Ministérios garante acesso a outros benefícios além da
proximidade com o presidente: recursos, distribuição de cargos e visibilidade
política, por exemplo.
Atribuir a mudança de posição exclusivamente
à popularidade do presidente é uma leitura apressada. Avaliar o poder do
Executivo apenas pelo humor das pesquisas é um erro.
Ainda que a popularidade de Lula estivesse
baixa em abril, minimizar os benefícios de fazer parte do executivo foi
precipitado. É pouco plausível que deputados dispostos a apoiar medidas
impopulares, como a PEC da Blindagem, para ficar em um exemplo recente, se
guiem apenas, ou sobretudo, por índices de aprovação em pesquisas de opinião.
Além disso, os primeiros indícios de
recuperação da economia já despontavam. O mercado de trabalho já dava sinais de
bons resultados, e estatísticas indicavam que a recuperação da economia estava
em curso. Capa desta Folha em 16 de março noticiava que a renda dos
mais pobres superava a inflação dos alimentos. Ao mesmo tempo, avançava o
processo de responsabilização do ex-presidente Jair
Bolsonaro pelos atos de 8 de janeiro, e ele já havia sido
declarado inelegível.
Parcela dos formadores de opinião anseia por
decretar a morte do sistema de governo vigente no país e reivindicar sua
substituição pelo parlamentarismo. O parlamentarismo, como num passe de mágica,
corrigiria todos os vícios da política brasileira. Que este episódio sirva para
nos inspirar cautela no futuro ao interpretar o funcionamento do sistema
político brasileiro e o equilíbrio de forças entre os Poderes.
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